Num comentário a uma postagem no facebook feita pelo Gustavo Gindre, que pedia sugestões de livros para entender melhor quem foi Stálin e o papel por ele desempenhado na história, Cleber Leinrac, a quem não conheço pessoalmente, resgatou uma parte de um texto de Vitor Serge que é preciosa e que reproduzo aqui:
"RELATOS DE VICTOR SERGE
Victor Lvovich Kibalchich (Виктор Лвович Кибальчич) (Bruxelas, 1890-México DF, 1947), conhecido por Victor Serge, foi um revolucionário, fecundo escritor, ativo participante no processo revolucionário russo a partir da sua chegada a Petrogrado, em fevereiro de 1919, trabalhando na recém fundada Comintern como jornalista, editor e tradutor. Crítico aberto do estalinismo, obrigado a abandonar a União Soviética fugindo à repressão e, como tantos outros revolucionário, faleceu no exílio mexicano.
No prefácio de 1938 à sua obra "O ano I da Revolução Russa", o revolucionário russo-belga Victor Serge sintetiza o que, na altura desse ano, tinham já suposto as perseguições políticas de Stalin:
"Dentre os homens cujos nomes serão encontrados nas páginas seguintes deste livro, apenas um sobrevive, Trotsky, perseguido há dez anos e refugiado no México. Lenin, Dzerjinski e Tchitcherin morreram antes, evitando assim a prostrição. Zinoviev, Kamenev, Rykov e Bukharin foram fuzilados. Entre os combatentes da insurreição de 1917, o herói de Moscou, Muralov, foi fuzilado; Antonov-Ovseenko, que dirigiu o assalto ao Palácio de Inverno, desapareceu na prisão; Krylenko, Dybenko, Chliapnikov, Gliebov-Avilov, todos os membros do primeiro Conselho dos Comissários do Povo, tiveram a mesma sorte, assim como Smilga, que dirigia a frota do Báltico, e Riazanov; Sokolnikov e Bubnov, do Bureau político da insurreição estão presos, se é que ainda vivem; Karakhan, negociador em Brest-Litovsk, foi fuzilado; dos dois primeiros dirigentes da Ucrânia soviética, um Piatakov, foi fuzilado, e o outro, Racovski, velho alquebrado, está na prisão; os heróis das batalhas de Sviajsk e do Volga, Ivan Smirnov, Rosengoltz e Tukhatchevski foram fuzilados; Raskolnikov, posto fora da lei, desapareceu; dos combatentes dos Urais, Mratchkovsky foi fuzilado, Bieloborodov desapareceu na prisão; Sapronov e Vladimir Smirnov, combatentes de Moscou, desapareceram na prisão; o mesmo aconteceu com Preobrajenski, o teórico do comunismo de guerra; Sosnovski, porta-voz do Partido Bolchevique no primeiro Executivo Central dos sovietes da ditadura, foi fuzilado; Enukidze, primeiro secretário desse Executivo, foi fuzilado. A companheira de Lenin, Nadejda Krupskaia, terminou seus dias não se sabe em qual cativeiro… Dentre os homens da revolução alemã, Yoffe suicidou-se, Karl Radek está preso; Krestinski, que continuou atuando na Alemanha, foi fuzilado. Da oposição socialista-revolucionária de 1918, Maria Spiridonova, Trutovski, Kamkov, Karelin, provavelmente sobrevivem, porém na prisão já há 18 anos. Blumkin, que aderiu ao Partido Comunista, foi fuzilado. Entre os homens que, no Ano II, asseguraram a vitória da revolução, pequeno número ainda vive: Kork, Iakir, Uborevitch, Primakov, Muklevitch, chefes militares dos primeiros exércitos vermelhos, foram fuzilados; fuzilados os defensores de Petrogrado, Evdokimov e Okudjava, Eliava; fuzilado Fayçulla Khodjaev, que teve papel de grande importância na sovietização da Ásia Central; desaparecido na prisão, o presidente do Conselho dos Comissários dos Sovietes da Hungria, Bela-Kun…"
Reparem que esta extensa relação foi redigida em 1938, e contém apenas nomes de líderes bolcheviques de destaque durante a Revolução. Não constam nela os nomes dos membros do Exército Vermelho, por exemplo, que venceram a guerra civil e que foram depois eliminados em grande número. O próprio Trotsky foi assassinado no México pouco depois de publicado este prefácio. Nem os nomes dos vários stalinistas que Stálin mandou matar depois, o mais importante deles tendo sido Kirov, líder extremamente popular em Moscou, de cuja morte ele ainda se serviu para acusar seus opositores pelo assassinato.
Lendo esta nominata já dá pra fazer uma pequena ideia de quem foi, na verdade, o "companheiro" Josef.
Bukharin, inclusive, às vésperas de ser fuzilado, apelou ao seu velho conhecido, usando o codinome anterior de Stálin, naquela que foi talvez a mais patética carta redigida por um dos condenados nos processos de Moscou. Nela o sentenciado perguntava: "Koba, de que te serve a minha morte?" Não teve outra resposta que não as balas do pelotão de fuzilamento.
"RELATOS DE VICTOR SERGE
Victor Lvovich Kibalchich (Виктор Лвович Кибальчич) (Bruxelas, 1890-México DF, 1947), conhecido por Victor Serge, foi um revolucionário, fecundo escritor, ativo participante no processo revolucionário russo a partir da sua chegada a Petrogrado, em fevereiro de 1919, trabalhando na recém fundada Comintern como jornalista, editor e tradutor. Crítico aberto do estalinismo, obrigado a abandonar a União Soviética fugindo à repressão e, como tantos outros revolucionário, faleceu no exílio mexicano.
No prefácio de 1938 à sua obra "O ano I da Revolução Russa", o revolucionário russo-belga Victor Serge sintetiza o que, na altura desse ano, tinham já suposto as perseguições políticas de Stalin:
"Dentre os homens cujos nomes serão encontrados nas páginas seguintes deste livro, apenas um sobrevive, Trotsky, perseguido há dez anos e refugiado no México. Lenin, Dzerjinski e Tchitcherin morreram antes, evitando assim a prostrição. Zinoviev, Kamenev, Rykov e Bukharin foram fuzilados. Entre os combatentes da insurreição de 1917, o herói de Moscou, Muralov, foi fuzilado; Antonov-Ovseenko, que dirigiu o assalto ao Palácio de Inverno, desapareceu na prisão; Krylenko, Dybenko, Chliapnikov, Gliebov-Avilov, todos os membros do primeiro Conselho dos Comissários do Povo, tiveram a mesma sorte, assim como Smilga, que dirigia a frota do Báltico, e Riazanov; Sokolnikov e Bubnov, do Bureau político da insurreição estão presos, se é que ainda vivem; Karakhan, negociador em Brest-Litovsk, foi fuzilado; dos dois primeiros dirigentes da Ucrânia soviética, um Piatakov, foi fuzilado, e o outro, Racovski, velho alquebrado, está na prisão; os heróis das batalhas de Sviajsk e do Volga, Ivan Smirnov, Rosengoltz e Tukhatchevski foram fuzilados; Raskolnikov, posto fora da lei, desapareceu; dos combatentes dos Urais, Mratchkovsky foi fuzilado, Bieloborodov desapareceu na prisão; Sapronov e Vladimir Smirnov, combatentes de Moscou, desapareceram na prisão; o mesmo aconteceu com Preobrajenski, o teórico do comunismo de guerra; Sosnovski, porta-voz do Partido Bolchevique no primeiro Executivo Central dos sovietes da ditadura, foi fuzilado; Enukidze, primeiro secretário desse Executivo, foi fuzilado. A companheira de Lenin, Nadejda Krupskaia, terminou seus dias não se sabe em qual cativeiro… Dentre os homens da revolução alemã, Yoffe suicidou-se, Karl Radek está preso; Krestinski, que continuou atuando na Alemanha, foi fuzilado. Da oposição socialista-revolucionária de 1918, Maria Spiridonova, Trutovski, Kamkov, Karelin, provavelmente sobrevivem, porém na prisão já há 18 anos. Blumkin, que aderiu ao Partido Comunista, foi fuzilado. Entre os homens que, no Ano II, asseguraram a vitória da revolução, pequeno número ainda vive: Kork, Iakir, Uborevitch, Primakov, Muklevitch, chefes militares dos primeiros exércitos vermelhos, foram fuzilados; fuzilados os defensores de Petrogrado, Evdokimov e Okudjava, Eliava; fuzilado Fayçulla Khodjaev, que teve papel de grande importância na sovietização da Ásia Central; desaparecido na prisão, o presidente do Conselho dos Comissários dos Sovietes da Hungria, Bela-Kun…"
Reparem que esta extensa relação foi redigida em 1938, e contém apenas nomes de líderes bolcheviques de destaque durante a Revolução. Não constam nela os nomes dos membros do Exército Vermelho, por exemplo, que venceram a guerra civil e que foram depois eliminados em grande número. O próprio Trotsky foi assassinado no México pouco depois de publicado este prefácio. Nem os nomes dos vários stalinistas que Stálin mandou matar depois, o mais importante deles tendo sido Kirov, líder extremamente popular em Moscou, de cuja morte ele ainda se serviu para acusar seus opositores pelo assassinato.
Lendo esta nominata já dá pra fazer uma pequena ideia de quem foi, na verdade, o "companheiro" Josef.
Bukharin, inclusive, às vésperas de ser fuzilado, apelou ao seu velho conhecido, usando o codinome anterior de Stálin, naquela que foi talvez a mais patética carta redigida por um dos condenados nos processos de Moscou. Nela o sentenciado perguntava: "Koba, de que te serve a minha morte?" Não teve outra resposta que não as balas do pelotão de fuzilamento.
Comentários
Postar um comentário