De ranços, espantalhos e oposições


Ehr... "ranço estudantil-assembleísta", seria isto um rótulo? Serviria para desqualificar o interlocutor? E logo no primeiro parágrafo!? E sou eu o rançoso?

Eu conheço e respeito você há anos, O que provoca. Conheço sua crítica aos trotskystas, se não em detalhes, pelo menos em linhas gerais. Não conheço sua crítica ao brizolismo, mas há elementos no seu texto que parecem indicar que ela não foi profunda (ou catártica) o suficiente para livrar sua imaginação de alguns dos espantalhos prediletos do velho Leonel. Exemplo: o demônio "monopolista" Rede Globo (tudo bem com as outras, né? Record, Band, SBT, etc., nenhuma delas concorre com a Globo, nenhuma tem ou teve quaisquer relações promíscuas com a ditadura ou seus herdeiros e todas foram e são exemplo de alto compromisso com a "politização" do povo, certo? A banheira do Gugu, então, foi um marco inigualável na conscientização política do brasileiro!). Outro: o "elogio" recorrente ao politizadíssimo povo do Rio de Janeiro (a "prova" da politização superior: os cariocas votavam no Brizola, às vezes!). Puro cabotinismo (do Leonel, bem entendido). Mais um: o gosto pelas teorias da conspiração. Os jornalistas que fundaram o Pasquim trabalhavam e moravam todos no Rio de Janeiro, logo a fundação do jornal no Rio é... suspeitíssima! A tal ponto, que seria "menos estranho" se ele tivesse sido fundado... no Piauí!, onde "não significaria porra nenhuma" (Como assim, O que provoca? Significaria, no mínimo, que milagres acontecem!). Ora, tenha santa paciência...

O motivo de eu ter postado os endereços dos livros do Gaspari, o "babaca sazonal e delirante" (outro rótulo? Outra desqualificação?), não foi mandar nenhum recado do tipo: "você precisa ler alguma coisa sobre esse assunto, seu ignorante". Mas eu devia ter esclarecido isto ao postar. Não o fiz e isso pode ter causado uma falsa impressão do tipo. Peço desculpas, se tiver sido esse o caso. O motivo real está no prefácio do livro: o Gaspari teve acesso ao arquivo pessoal do Golbery e passou anos trabalhando sobre material historiográfico inédito. Isto, no mínimo, torna o trabalho digno de ser conhecido, sem implicar, claro, em qualquer aval à visão dele do processo. A trilogia que você cita, "A Memória Militar" - "Visões do Golpe", "Anos de Chumbo" e "A volta aos quartéis", desconheço inteiramente, até como citação. Gostaria de conhecer, e se você puder disponibilizar, agradeço. Mas declaro desde já que, com referência à "sinceridade" dos depoimentos de "alguns dos principais generais da ditadura", me permito manter uma posição de prudente ceticismo...

Quanto ao PARTIDO DE OPOSIÇÃO funcionando durante nossa iluminada Redentora, prova maior, se não única, da elogiada e superior ilustração da "nossa" ditadura morena, estamos falando do... MDB?!?! Uma piada da época, não sei se publicada no Pasquim (eu sei, isso a tornaria suspeita...), dizia que a ARENA era o partido do sim, e o MDB, o do sim senhor. Os partidos políticos realmente existentes foram dissolvidos pelo Ato Institucional nº 2, logo em seguida às degolas de políticos das mais variadas extrações pelo Ato nº 1. O MDB era uma fachada, destinada tanto a coonestar o regime quanto a abrigar aqueles membros do Congresso aquiescente que os líderes da ditadura não queriam abrigar na sua ARENA, por questões o mais das vezes puramente regionais. Demorou 10 anos para que a parcela oposicionista da sociedade enxergasse no MDB um instrumento que poderia ser utilizado na luta contra a ditadura, e isso se deveu à vitória de 74, em alguns grandes centros, de candidatos do MDB que tiveram uma votação tão expressiva quanto inesperada! Basta lembrar que o voto nulo era muito forte na esquerda como um todo até aquela data. O conteúdo político do produto MDB (que incluía Chagas Freitas e Orestes Quércia) não correspondia ao rótulo-fantasia OPOSIÇÃO. Fosse hoje, poderíamos alegar propaganda enganosa! Compare com a ditadura de Lênin, estabelecida após o golpe de Outubro com a dissolução da Constituinte, que teve representados no Parlamento soviético partidos de oposição (ao governo, não ao regime!) como os Social-Revolucionários, Mencheviques e Anarquistas, entre outros. Também a Assembléia Popular chinesa, pós revolução, manteve representação do Kuomintang (ele mesmo, o do Chiang), de oposição. E isto só pra citar dois casos clássicos.

Já quanto à alegada "cooptação de toda a classe artística de esquerda", isto é uma generalização tão grande que não pode deixar de ser injusta (Nadie es inocente!, bradavam os anarquistas de antanho). Daí ser necessário dar nome aos bois. Por exemplo, a Beth Carvalho foi cooptada? E só para ampliar o espectro político, e o Chico? O Caetano? O Gil? O Milton? A censura era o que, o instrumento da cooptação da intelectualidade? E o exílio? A asfixia econômica progressiva da imprensa, também? Afinal, O que provoca, quem sofreu com a ditadura merece algum respeito, ou não? Ou vamos mandar todos pra vala, indiscriminadamente?

Comentários

  1. (com muitas gargalhadas)
    Pois, me dou por satisfeito com esta última postagem do Patah. Certamente, e com base, ele não concordará com nada do que eu disse - não importa a forma com que eu tente.
    Apenas um último comentário, Patah: o exemplo da Beth Carvalho lutando na resistência cultural foi a razão maior do meu ataque de riso...
    De resto, parabéns e olho vivo.
    Fique atento porque seguirei provocando em outro tópico.

    Forte abraço

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  2. Folgo em sabê-lo satisfeito. De fato a discordância era quanto ao conteúdo mesmo. Mas essa gargalhada aí, deflagrada pela menção (evidentemente provocativa) à Beth Carvalho, pode ou não ser ser entendida como uma crítica sua às posições do brizolismo no debate cultural de um modo geral?

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