Tiros que saem pela culatra


Em 1978 o MDB, naquele momento funcionando como frente ampla das oposições, ganhou as eleições batendo os candidatos da ditadura na maioria das grandes cidades brasileiras.  O governo respondeu com a reforma partidária, visando rachar a frente oposicionista.  Tancredo criou o PP, que acabou durando muito pouco. Outros setores começaram a articulação para a criação do PT, ao mesmo tempo em que avançavam as lutas pela anistia e pelas eleições diretas, ambas apontando para o término da ditadura.

Apesar dos temores do PCB, e da fração do MDB que viria a se organizar bem mais tarde no PSDB, e dos obstáculos quase intransponíveis para que se organizasse um partido que não fosse pela cooptação de  parlamentares exercendo o mandato, o PT conseguiu se legalizar, em grande parte graças às comunidades de base da Igreja, ligadas à Teologia da Libertação.  Também o PDT foi criado, ainda que Brizola tenha sido impedido de utilizar a sigla histórica do trabalhismo, o PTB, que foi entregue à Ivete Vargas e que depois virou este aglomerado de corruptos comandados hoje pelo Roberto Jefferson.

Alterado o quadro partidário, o que se viu?  Viu-se que, ao contrário dos objetivos da ditadura, a criação das novas siglas aumentou significativamente a mobilização popular pela volta da democracia.  O Tiro saíra pela culatra.

Em 1982, vieram as primeiras eleições para governadores de estado.  Também seriam eleitos senadores, deputados estaduais e federais, prefeitos e vereadores. A ditadura impôs a vinculação total de votos, esperando com isso anular grande parte dos votos na oposição, na suposição de que o eleitor votaria pensando em primeiro lugar nos candidatos mais próximos (vereadores e prefeitos) e que a vinculação os obrigaria a votar nos candidatos majoritários a eles vinculados.  Errou completamente.  A dinâmica da eleição foi dada pelos majoritários (o que não era difícil de prever - era uma novidade e tanto eleger governadores de estado) e, assim, no Rio, os cariocas que queriam Brizola elegeram também Juruna e Agnaldo Timóteo.  E a parcela da esquerda que foi de Miro Teixeira, de certo modo partilhando a avaliação da ditadura, perdeu todos os deputados que tinha eleito em 78. Burrice. Dessa esquerda e da ditadura também.

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