Ai, leda


Depois de ler meio rapidamente um e-mail que uma amiga me mandou outro dia sobre uma produção cinematográfica contendo supostas barbaridades e ignomínias perpretadas por e sobre Lula (ela adora me mandar mensagens que o desmoralizam), percebi que a mensagem era assinada por uma certa Aileda de Mattos Oliveira, doutora de Língua Portuguesa pertencente aos quadros da UFRJ. Corri à internet a verificar sua autenticidade e encontrei, no endereço abaixo, esta postagem assinada, cuja leitura recomendo para o eventual leitor da crítica que passo a fazer.

http://resistenciademocraticabr.blogspot.com/2009/10/lula-filho-do-brasil.html

Eu, que já vinha observando, chocado com a arrogância e a virulência, inúmeros erros e más colocações de palavras e regências, pensava, antes de chegar ao fim do texto, que fosse mais um desses diretores de estatais que sempre estudaram em bons colégios, mas que nunca se dedicaram à inculta e bela com o devido cuidado, e cuja insatisfação com esta ou aquela situação necessitam extravasar através de panfletos repletos de ódio e (peço desculpas por usar esta maldita palavra) preconceito.

O textículo da doutora de LP pretexta comentar o lançamento do filme Lula, o filho do Brasil, de Fábio Barreto, a ser lançado em 2010 e a que não assisti, e creio que ela idem, pois o inicia com “Chega-nos ao conhecimento...”. Isto só já é suficiente para suas linhas serem lidas e tidas como precipitadas e deselegantes. Ela passa metade do tempo falando do estropiamento da língua e da culpa de Lula por isto, afastando-se e perdendo-se do seu objetivo de enxovalhar a película, e a outra metade de alcoolismo e corrupção, numa postagem permeada de fotos e charges desabonadoras.

Por falar em deselegância, vou convidar a doutora de LP para se sentar no banco escolar para que seja analisado um aspecto que lhe foi caro em seu manifesto. Não vou aqui me referir à selvageria de seus ataques, nem à imprecisão de sua mira. Em lugar disso, vamos à elegância vernacular e expressiva: para começar, excetuando-se o último, todos os seus períodos são simples, isto é, parágrafos com apenas uma frase. Sinal de pobreza de recursos, condição indigna de uma pessoa da área de educação com tal grau de erudição e “superioridade”.

Embora não se possa afirmar peremptoriamente acerca do mau uso, as palavras consequências e produtos, lidas no terceiro e no quarto parágrafos, ficariam mais elegantes no singular. A única explicação para o pronome oblíquo as, no mesmo trecho, é a do uso de um anacoluto feito para confundir. A incontinência verbal da doutora de LP produziu, no parágrafo seguinte, o infeliz oxímoro esperteza de um espírito pusilânime, cujo significado ainda não foi alcançado por ninguém. No seguinte, não conseguimos entender a mentira passa à verdade: a mentira se passa? a mentira passa a ser? Aliás, a primeira palavra, o condicional se, tornou incoerente todo o trecho, pois a oração fica sem o sujeito pretendido.

O parágrafo seguinte (estou seguindo a ordem) não faz sentido: ou o verbo é consumir, o que não costuma acontecer em relação a dicionários, nem mesmo os metafóricos, ou é consumar, e aí temos um tempo mal conjugado. Se se optar por consumir, vemos a aberrante contradição – erro de raciocínio ou falta de intimidade vocabular – entre o já percebido pensamento da doutora de LP e sua recomendação entusiástica para que assistamos ao execrável filme quando disponível.

O parágrafo seguinte, que mais se parece com uma legenda de uma colagem de fotos, contém um erro de regência nominal: as pessoas se referem a, e não de alguma coisa. Isto fora o réu confesso, que absolutamente não é o caso. É apenas réu acusado.

O parágrafo seguinte (sempre seguindo a ordem), de apenas três linhas curtas, tem três erros de colocação de vírgula, com efeitos diferentes e devastadores para a reputação da autora, se ainda existente. O primeiro é separar sujeito de predicado: a primeira oração é sujeito da segunda, sem vírgula, portanto; a segunda também não existe, pois o que segue depois é um complemento; a terceira vírgula é a que não foi posta após vexames do filho, o que tornou restritivo um aposto que, no caso, teria que ser explicativo, já que já havia referência imediatamente anterior. Não estou nem falando que qualquer brasileiro (caso de Lula) é filho do Brasil e que o filme é do diretor Fábio Barreto, e não do Lula.

No parágrafo seguinte (tá ficando repetitivo isso), embora eu mesmo não seja fanático por esta regra, ainda está em vigor a concordância em bastassem as ofensas. A regência nominal de ter direito exige a preposição a: ter direito a uma herança.

Pausa de um parágrafo para retomada do fôlego. Infelizmente, pausa curta demais. Estou ficando cansado. Daqui para adiante, falarei só por alto. No parágrafo seguinte, não existe a vírgula antes de coincidentemente, a menos que haja outra depois de filme; mais abaixo, entre duas charges, lemos incrédulos o imbatível baixa estima (ai, leda, aí você se superou!, tornou baixa a minha auto-estima), merecedor do troféu por nocaute. Como se viu, eu já não tinha mais pernas ao chegar aos 30 do segundo tempo. Deixo o gramado (mas não venha com muita fome, Aileda, porque ele já está bastante gasto) sem me referir, conforme prometi, à sua selvageria feita de vitupérios e falta de estilo.

E olhe, Aileda, é fácil, mas nada original, uma doutora de LP massacrar por escrito e pe(n)sadamente quem, em discursos muitas vezes de improviso, foi marcado para ser um analfabeto funcional, um apedeuta integral pela sociedade dos que trabalham e estudam para o desenvolvimento nacional, como você. O difícil é fazê-lo com correção gramatical, espírito construtivo e, acima de tudo, honestidade, como você não soube nem quis fazer, imagino que por desonestidade intelectual. Pensando bem, o nome dela, um bustrofédon barato, ai dela, desses que se vê de vez em quando em comunidades pobres, denota, ainda que indiretamente, uma história de vida de falsas superações.

Para finalizar, diria que, não sendo eu professor de nem doutor em LP, assim mesmo posso julgar que Lula talvez tenha tido sorte por não esbarrar, em seus pouquíssimos anos escolares, com Ailedas, nem com o que trabalha e estuda para o desenvolvimento nacional, e certamente também não com esse tipo de patriota que não leva vantagem porque pertence a outro grupamento ético.

Ah!, e não sou petista.

Comentários

  1. Fui checar o link...
    Ô o que sempre chega depois: tás querendo matar mosquito com bala de canhão?
    Sei não... Dar repercussão às sandices que este tal blog publica, parece ser exatamente o que eles desejam que se faça.
    Mas a crítica me lembrou o Millôr espinafrando o Brejal dos Guajas, do Sarney.

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  2. Também fui lá.

    De pleno acordo com ambos. Uma perda de tempo. Foi como pisar em merda e depois ficar quinze minutos limpando o sapato.

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  3. Nossa, só queria desmistificar um pouco essa trajetória pretensamente asséptica dos guardiães da moralidade e da intocabilidade das, porra, "instituições". Quero matar canhão com mosquito, sem bala, que bala faz mal à saúde. Eu não quero que adoeça, quero é matar mesmo.
    Mas reparem, fui claro em dizer que meu objetivo primevo não era rechaçar componentes ideológicos, só tangencialmente tocados, e sim desvelar provas de títulos. Ainda volto, um dia, e conforme as exigências, ao desarrazoado texto da doutora de. E olhem que ainda faltou explorar coisas no plano meramente da comunicação, como semântica(s) e Acordo.

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  4. Ih, esqueci de mencionar: os itálicos estão todos presentes, ou quase, retirados do texto original assinado pela doutora de. Mas eu mantenho o e-mail por mim recebido para dirimir quaisquer tipos de dúvidas sobre veracidades em geral.

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  5. Embora tenha gerado um texto de beleza perturbadora, como a do seu autor, visitar o preconceituoso e positivista "Blog da Resistência Democrática Brazil" (com "z") é realmemte uma total perda de tempo. O layout é péssimo e o conceito idem. Anunciam-se assim: "somos um grupo de pessoas que crê em Deus, na ordem, no equilíbrio como princípio básico de construção do universo...uma pérola de texto. Mas, já perdi muito do meu caótico tempo com esse pessoal da TFP. Melhor resposta foi dada por um cidadão que, ao comentar o post da professora doutora, simplesmente disse: como???? Uma única palavra... pra que mais?

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  6. Este é o nosso bacharal em letras! O cara não só desvela como também dirime! É um homem de objetivos primevos! Ducacete! Eu falei que o que sempre chega depois ia dar contribuições de alta qualidade, não disse?

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  7. A tia lá é complicada, hem??? Ela com certeza teve um lapso Neuro Frontal após passar um dia torrando e caminhando pelo centro da cidade e qdo com muita sede, bebeu água gelada sem antes molhar os pulsos. Coisas que só a vó Esther explicaria.
    Bjus vou nanar, até amanhã.

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  8. Caraca, o que sempre chega depois! Que texto empoado! Cansada do trabalho, fiquei sem ânimo de ler tudo...

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  9. Pois é, Vania, o trabalho cansa, e às vezes desanima. Desanima também o equívoco, talvez geral, de acharem que eu fui procurar o texto no link, quando na verdade o recebi por email. E o desmascaramento da madame, feito com suas próprias ferramentas, me pareceu necessário.
    A leitura, quando rápida demais, pode causar esses efeitos, fazer o quê?

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