A história da filosofia em 40 filmes

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Esta manhã de sábado me reservou duas situações deliciosas. A primeira foi rever, depois de alguns anos, uma amiga dos tempos em que trabalhava na gráfica do Banco do Brasil, aqui no Rio. Embora não trabalhasse no setor de desenho da gráfica, a Farida, este é o seu nome (que em árabe significa única, sem igual) sempre aparecia por lá , e invariavelmente nos salvava com seus pitacos, quando não nos ocorria nenhuma idéia para aquele folder, cartaz ou outro projeto qualquer e o prazo para sua apresentação já estava no fim. Era, por assim dizer e, sem exagero, nossa diretora de arte.

A segunda delícia desta manhã está relacionada ao cartaz aí de cima. Atendendo a um convite da Farida que, aliás, está sempre por dentro de todo programa cult bom, bonito e barato nesta cidade fui, logo cedo, as 10:00, ao Centro Cultural da Caixa assistir ao filme "Marcas da Violência" (A history of Violence). Este filme, do qual farei breve relato mais abaixo, está inserido dentro do projeto que tem como nome o título deste post. Mais especificamente, este foi o último dos 4 filmes apresentados dentro do módulo que objetivou discutir a história da violência dentro do processo civilizatório ocidental. Os outros 3 filmes apresentados neste módulo foram " Ricardo III, Al Pacino, 1996, Macbeth, Roman Polanski, 1971 e Dogville, Lars von Trier, 2003.

"Nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie" Essa célebre passagem das Teses sobre o conceito de história, de Walter Benjamin, foi o ponto de partida para a seleção dos filmes que integram este módulo. O tema é fantástico, o conceito envolvido na discussão é profundo e repleto de dualidades e lamentei a ausência e o luxuoso auxílio intelectual dos meus companheiros blogueiros. Todos estes filmes citados, chamam a atenção para a dialética do tema. Se por um lado a violência serviu para subtrair a humanidade, o seu combate, por parte dos defensores da ordem social, representados pelos "homens de bem", por outro, implicou sempre numa violenta repressão ao potencial erótico e a "agressividade" própria ao humano. Problema: os impulsos reprimidos sempre retornam e o "American way of life"constantemente termina em banho de sangue em uma escola qualquer de uma cidade qualquer do interior. Nestas cidades, o sistema eliminou a morte por crime quase que por completo...e também a vida. As pessoas matam por tédio...


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"Marcas da violência" , dirigido por David Cronenberg, é uma produção de 2005 e tem no elenco Viggo Mortensen, Maria Bello, Ed Harris e William Hurt entre outros. O filme, conta a história de Tom Stall, cidadão exemplar que leva uma pacata e feliz vida na pequena cidade de Millbook, no estado de Indiana, junto a sua esposa Edie e seus dois filhos. Essa plácida rotina é interrompida quando, para impedir um assalto a seu restaurante e salvar seus fregueses de dois assassinos sanguinários, Tom acaba matando-os espetacularmente. Considerado um herói pela mídia, ele acaba ganhando projeção nacional. Surge então em sua vida Carl Fogarty, um mafioso que coloca em questão a identidade de Tom, acusando-o de, no passado, ter pertencido a uma violenta organização criminosa. Se Fogarty tem ou não tem razão, pouco importa. O filme de Cronenberg mostra de forma singularmente irônica o que se esconde por trás do sonho americano, sendo provavelmente um dos mais fiéis retratos da era Bush.

Criticado por uns e festejado por muitos, Cronenberg, que tem em sua filmografia produções típicas de filmes "B", como " Scanners - Sua Mente Pode Destruir", de 1981, ou "Calafrios", de 1975, foi aclamado pela crítica por seu trabalho na refilmagem do clássico "A Mosca", de 1986. De estilo bizarro/gótico e usando e abusando da violência explícita, realizou o provocativo "Crash" e um ensaio sobre a realidade virtual em "eXistenZ", ambos também aclamados nos festivais de Cannes e Berlim. Seja como for, Cronenberg é visceral. As cenas de violência de seus filmes, que costumam expor as vísceras das vítimas e sangue jorrando por todos os lados, são chocantes e cada morte é sentida com horror pelo público. Ou será que a indiferença do público diante das centenas de mortes por minuto, como nos filmes de Stalone ou Schuazneger, é que deve ser festejada?

A partir do próximo sábado, dia 28/11, e nos 3 sábados seguintes, o módulo abordado será "O fascismo hoje". Para embasar a discussão do tema mais 4 filmes serão apresentados: "M, o vampiro de Dusseldorf, Fritz Lang, 1931, " Taxi driver", Martin Scorcese, 1976, "Apocalypse now", Francis Ford Coppola, 1979 e "Laranja mecânica", Stanley Kubrick, 1971. As apresentações são gratuitas e, para quem não conhece, o Espaço Cultural da Caixa fica ali na Avenida Chile, no Centro, e é estremamente agradável, amplo, confortável e bem frequentado. Quem vai comigo?

Por último, uma grata revelação: a Farida é amiga da Lúcia, lembram-se? Informou-me que ela está muito bem e lindíssima como sempre.

Grande beijo.

Comentários

  1. A Lúcia, irmã da Inês?

    Não vi esse filme do Cronenberg. Dele só assisti Scanners, Mórbida Semelhança e a Mosca. Scanners era uma bobagem, assim, assim, Mórbida Semelhança achei repulsivo, mas a Mosca... este sim era mesmo uma merda total e absoluta.

    Refilmagem super=produzida de um sucesso dos anos 50, um filme B bem legal, batizado aqui A Mosca da Cabeça Branca, estrelado por Vincent Price. A minha memória também fede, mas me lembro que a crítica bateu "di cum força" no filme, na época (do "remake").

    Mas é verdade também que muita gente que gosta de cinema idolatra o Cronenberg. Não sei por quê, talvez o motivo se encontre nos muitos filmes dele que não vi.

    The Doll pode se pronunciar melhor do que eu nessa matéria.

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  2. Lembro-me de ter assistido A mosca da cabeça branca, com Vicent Price, ainda criança, numa dessas sessões coruja ou algo do tipo. Dos filmes que vi do cara, por coincidencia, os mesmos que vc viu, este de hoje foi o melhor disparado...
    Sei lá! Disseram os organizadores do debate ocorrido após o filme que ele sempre parte de um conceito original para a técnica que considera secundária. De fato, olhando assim, fica fácil enxergar certo ar tosco em seus filmes. Mas, aí me parece estar sua força. Ele é bizarro e gótico e disso eu gosto. Com a palavra The Doll...

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  3. Este sábado foi bem bacana, Cronenberg é um mestre.

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  4. Oi, LUH...embora não conheça vc, seu comentário é sempre bem-vindo. bj.
    Pegando o gancho, queria complementar o texto dizendo que o barato deste filme é que o Tom (homem de bem) para preservar sua pacata vida (sonho americano) passa a perseguir e matar de forma espetacular seus mafiosos perseguidores. Ou seja, o homem de bem barbariza os bárbaros em nome da civilização. Qualquer semelhança com a política externa de Bush não é mera coincidência! bjs.

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  5. Péra aí? este sábado foi bem bacana? Ops! rsrsrs

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