Mais Tabacaria!




CRUZ NA PORTA DA TABACARIA

Cruz na porta da tabacaria!
Quem morreu? O próprio Alves? Dou
Ao diabo o bem-'star que trazia.
Desde ontem a cidade mudou.

Quem era? Ora, era quem eu via.
Todos os dias o via. Estou
Agora sem essa monotonia.
Desde ontem a cidade mudou.

Ele era o dono da tabacaria.
Um ponto de referência de quem sou.
Eu passava ali de noite e de dia.
Desde ontem a cidade mudou.

Meu coração tem pouca alegria,
E isto diz que é morte aquilo onde estou.
Horror fechado da tabacaria!
Desde ontem a cidade mudou.

Mas ao menos a ele alguém o via,
Ele era fixo, eu, o que vou,
Se morrer, não falto, e ninguém diria:
Desde ontem a cidade mudou.

(Poesias de Álvaro de Campos)


Tirado de http://www.algumapoesia.com.br/poesia/poesianet022.htm

Comentários

  1. Valeu, a nova tabacaria, véio...
    Pelo visto, já desencanou do papo da física. Legal, véio...
    bye, véio...

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