Saímos para o teatro então, eu e a Deusa. A adrenalina jorrando e a testosterona em um nível que só aos vinte anos. Na rua, o chevette 75 vinho, segundo dono, recém-adquirido.
Tinha porém um problema, o Teseu (era como eu batizara o possante). Aliás, dois: o primeiro era naquela peça que fica entre o volante e o banco, conhecida como motorista (para esse, não havia solução); o segundo, a fechadura da porta esquerda, que não abria por fora. Isso me obrigava a abrir primeiro a porta da direita para entrar no carro, e só então destrancar a outra por dentro. A Márcia, é claro, não sabia disso. Ao ver que eu me adiantava para abrir a porta do carona, julgou que minha intenção era agir como um cavalheiro das antigas, cedendo a primazia à dama. Juro, jamais poderia imaginar o efeito que aquilo teria sobre ela...
Aquele ato banal, inevitável nas circunstâncias, desencadeou uma tempestade nas sinapses da Márcia. Inesperadamente, quem sabe pelo efeito da cannabis, ela engatou um discurso feminista criticando duramente o machismo revelado pela minha atitude, emendou com uma declaração de ser ela plenamente capaz de abrir por si mesma a porta de um automóvel, falou de como não queria nem precisava da condescendência ou do favor de homem algum, e por aí foi, porrada pura. Balbuciei uma resposta, chocado com a dureza da condenação, argumentando com o fato de a fechadura estar defeituosa, mas não houve jeito. A mágica tinha desaparecido. Minha auto-confiança sumira. O universo não me sorria mais.
Daí em diante, só cagadas. Estacionar o carro foi um desespero, o meio-fio da rua em frente ao teatro era muito alto para a suspensão rebaixada do Teseu, a transmissão fez um barulho terrível raspando na calçada, um horror. Nenhum de nós gostou da peça, eu ainda menos. Insisti, por dever de ofício, para irmos a um barzinho depois, ela não queria, acabou indo; o bar, uma merda, melhor seria não ter ido. Não achamos assunto, falei um monte de besteiras, saímos logo. Levei a Márcia, a divindade perdida, de volta pra casa...
De tão envergonhado, nunca mais a vi.
Depois de tanta merda acontecida, acho que você bem poderia fechado o dia com um pouco de sarcasmo salvador da dgnidade.
ResponderExcluirQue tal, por exemplo, ao pagar a conta do barzinho (foi você quem pagou?) dizer algo como:
- Bem, Márcia, pelo andar da carruagem, nem pensar em foder, não é ?! (gargalhadas)
Fui atropelado por uma manada de uma só feminista selvagem! Pra ser sarcástico, é preciso ao menos simular auto-confiança. Passei longe, queria que o chão me engolisse.
ResponderExcluirHahahah, esta foi boa !!! Quer dizer que o teseu te f...!
ResponderExcluir( Desculpe os termos, mas foi isso que aconteceu ! )
bjs Patah
Pois é, Marília. Pelo menos alguém f... alguém nessa história...
ResponderExcluirTo aqui gargalhando e pensando realmente vc se PH em alto estilo. Será que essa Márcia era uma prima minha formada em publicidade e torcedora do Fogão? Ela era hiper feminista e super avançada pra época.Deixava minha avó de cabelos arrepiados.
ResponderExcluirEspero que com o passar do tempo as coisas tenham evoluido melhor.
Bj.
Cassinha, sua prima estudava na UFF? Morava em Niterói? Tinha um irmão? Se a resposta for sim, pode até ser...
ResponderExcluirBem, pelo menos salva-se sua opção futebolística, Bj.
ResponderExcluirMeu caro, O sem problems de agenda, ela estudou sim na UFF,tinha um irmão Edu, mas morava na Tijuca. Talvez tenha sido uma gemêa espiritual, rsrs. Bjk.
ResponderExcluirO que desenha, qto a opção futebolística, ela era Fogão, o irmão Vaxco, e eu só pra contrariar Flu, hehehe, afinal qdo ela vinha a Sampa nunca torceu pelo meu Verdão, kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
Bjks
Cassinha, o apelido do irmão dela era Dico?
ResponderExcluirAí Cassinha! Neeense!
ResponderExcluirSe for a mesma Márcia, aí sim f....
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