Pato no tucupi não é entupir o cu do pato!


Esse efeito aí de troca de imagens à esquerda do blog é muito bonito.

Porém, no caso de Madame Satã, comete alguns pecados.

A foto em que aparece o Milton Gonçalves com aquela pose de dondoca, ao que parece, vem do filme "Rainha Diaba" - roteiro de Plinio Marcos. E exatamente este é o problema. Plinio Marcos, se tentou emular algo do Satã, deu com os burros no Tietê. O personagem Diaba é traficante e chefe de quadrilha armada, duas atividades completamente estranhas ao grande malandrão da Lapa.

Quanto ao filme em que o Lázaro Ramos interpreta Madame Satã, nem de longe a complexidade do personagem é explorada. Tudo faz parecer que ele era muito pouco além de um transformista de showzinhos de botecos sujos. A essência da malandragem passou batida e a frustração, pelo menos no meu caso, foi enorme.

O dado comum é que todo mundo aí é viado.

NOTA DE EDITOR: Uma vez, num jornal do Espírito Santo, o copidesque corrigiu, num texto meu, a palavra "viado". Colocou, no lugar, "veado". Fiquei emputecido. "Viado" é uma palavra consagrada pelo homem da rua e, provavelmente, vem de "transviar" - que quer dizer "desviar", "desencaminhar". "Veado" é aquele bichinho chifrudo, doce e bonitinho.

Protestei, então, citando Millor Fernandes: pra mim, quem chama "viado" de "veado" é viado.

Comentários

  1. Provocante,

    existem várias formas de se contar uma história e, cinematograficamente falando, feliz é aquele que não busca exaurir o assunto, sem chance para revisões e novos olhares. Entendo seu desapontamento e (não com relação ao Madame Satã), eu poderia falar de ocasiões onde eu bem gostaria de ver algo mais, ou algo diferente, ou qualquer coisa que melhor me abonasse a opinião e o paladar. Contudo, mesmo quando não agraciada, costumo retomar o assunto, o filme, a idéia, a história, e saber dali o que é que me está sendo dito. Tenho o estranho hábito de aprender, seja qual for a forma. Às vezes aprendo apenas pequenas bobagens, outras vezes aprendo muito. Acho que por isso me dou ao trabalho.
    Madame Satã é um personagem pra lá de complexo, sim. E conforme seus outros post que li avidamente, tem um legado importantíssimo na história do Rio de Janeiro, sendo por todos reconhecido e tendo seu feitos integrado o imaginário da malandragem e consequentemente um pedaço da alma carioca.
    Acontece que o filme apesar de uma certa inserção biográfica, já que obviamente fala da vida de alguém, não pretende em nenhum momento dar conta de todas as facetas do personagem, mas escolhe falar de um determinado momento, o início da construção de tal personagem. E como todo início, nele não encontramos definidas e assentadas todas as futuras qualidades, mas podemos ver um pulso, uma vibração, um lugar de onde é que sai aquilo que vamos ter mais adiante. Se você perguntar a alguém que não sabe nada sobre o Madame Satã essa pessoa provavelmente saberá duas coisas: que o cara era O malandro e que o cara era gay. E o Karim (Ainöuz) olha esse lado do personagem que, diferentemente da sua maladragem que é construída retoricamente no decorrer da vida em consequência dos embates a que foi destinado, a viadagem é uma coisa que "vem de dentro", que está lá, que existia na vida dele muito antes dele segurar a primeira navalha. Além disso, a viadagem é também estrutural quando se fala de Rio de Janeiro. E se antes eu já sabia disso, meio que organicamente, no momento, morando na Coréia do Sul, onde "não existe" viado, fica patente como o Rio de Janeiro é sim um lugar onde falamos disso, onde convivemos com isso, onde a viadagem de uma forma ou de outra é parte da vida de todos - até daqueles que a odeiam. E nesse ponto o Madame Satã (o filme) é nevrálgico, verdadeiro, seco, direto, como uma boa pegação gay. Está boa, santa? Quem tem um convívio íntimo com amigos gays e já levou um perdido no meio da noite e teve que pagar o táxi sozinho porque a mona foi com o bofe, ou teve que esperar do lado de fora de casa, ou acobertou a bicha trancada no lugar errado onde ninguém podia ver e você ficou de guarda, ou pode dizer no trabalho "esse dia aí não dá porque eu já tenho foda marcada" e eles respeitam isso mais que tudo na vida, ou... (e olha que eu já passei por TODAS essas experiências) sabe como um bom sexo gay é nevrálgico, verdadeiro, seco, direto, essa bobajada toda. E pra quem escolheu olhar pra isso, eu diria que o Karim mandou muito bem.
    O que achei quando vi o filme pela primeira vez e continuo achando agora é que o personagem é tão bom que seria ótimo se tivéssemos outros filmes sobre ele, aí sim, dando conta dos seus outros aspectos, qualidades, adjetivos, whatever. O que não falta é conceito nesse mito e bom seria que alguém o revisitasse. E quando isso acontecer a opção do Karim será a de um lado a ser pareado com os outros que forem filmados, e poderemos ter uma iconografia fílmica do personagem histórico, que não necessariamente é o personagem cinematográfico.

    Beijos,

    Leitora Assídua

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  2. Uau, Dolly, depois dessa quase perco o rebolado satânico.
    O paradoxo da porrada, entretanto, é que o orgasmo do articulista explode quando o comentário sai mais valioso que a postagem original.
    Eis porque vi estrelas e já penso no levantar, sacudir a poeira e mandar melhor ainda numa próxima.

    Beijos

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  3. UAU! Não posso ficar fora dessa! O provocante continua mandando bem (será que percebi nas entrelinhas um certo preconceito tardio?). Mas,um ponto me tocou no comentário de thedolldoeskorea: A questão gay do ponto de vista do indivíduo gay. Embora não sendo gay, frenquentei durante muitos anos a noite carioca, a Lapa (antiga) e, inclusive boites e casas de shows gays como Casanova, por exemplo. Preconceito e violência são a rotina. Ótimo comentário.
    Em tempo: Como tenho feito a edição de imagens do blog e postado, inclusive, as apresentações de slides que ilustram as postagens mais pontuais, a meu critério, esclareço que os mesmos não tem a pretensão de traduzir com fidelidade a "alma" do artigo. Ao contrário, na maioria das vezes representam um mosaico de informações sobre o tema abordado colhidos na rede o que, como no caso de Madame Satã, acabam por criar pérolas como este debate. Beijo na boca de todos! Beijo de homem, claro!

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  4. Essa de "um certo preconceito tardio" me obriga a um aparte.

    É claro que devo ter algum resíduo preconceituoso da educação católica-apostólica-romana. Mas reprimo bem. No meu universo de amizades, conto pelo menos uns tres homossexuais convictos. Nunca batemos papo sobre escolhas, até porque nos enxergamos normais de parte a parte. O assunto nem sequer nos mobiliza ao debate.

    Minha história pessoal conta um caso de declaração de amor de um homem por mim. Embora não sentisse o mesmo por ele, fiquei muito orgulhoso por despertar sentimentos positivos até no mesmo gênero.

    Minha identidade, contudo, é consistentemente hetero - e isso não é motivo nem de orgulho e nem de vergonha. Apenas calhou de ser assim.

    Agora, tem uma coisa: seja feminina, masculina ou adrógina, eu NÃO SUPORTO VIADAGEM.

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  5. O provocante também manda bem quando provocado.
    Beijo.

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  6. Faz muito tempo que eu vi o filme Madame Satã. A impressão que ficou foi de uma claustrofobia sufocante. Até na ida à praia dos personagens as imagens são fechadas, o mar não tem horizonte, é limitado por uma montanha (cito de memória, posso estar completamente errado). Toda uma metáfora da ausência de saída, de perspectivas, de possibilidade de liberdade e felicidade. Uma prisão existencial. E isso é exatamente o contrário do que os homossexuais dizem de si mesmos. Curioso, né? O Satã do filme, como diz a Doll, é distanciado da figura "histórica". É um personagem de cinema, um artifício para expor a visão de mundo do diretor.

    Mudando de assunto, que catzo é "preconceito tardio"? Existe, por oposição, "preconceito precoce"? E "identidade consistentemente Hetero"? O que seria uma heterossexualidade inconsistente? Caetano Veloso? Marina Lima? Alexandre Frota? Hein? Hein?

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  7. Na mosca !!! (gargalhadas)
    Caetano Veloso é um heterossexual inconsistente.

    Marina é uma homossexual inconsistente.

    Alexandre Frota é... peraí... quem é Alexandre Frota?

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  8. Esse papo todo ta me deixando meio inconsistente tb...rs.

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