Ao tratar, em outra postagem, da nova esperança de tratamento para a Doença de Chagas através do veneno de jararaca, lembrei-me de uma notícia interessantíssima que eu pesquisara para desenvolver um trabalho de escola sobre o tema. A notícia em questão, publicada no Portal Fiocruz, tratava do tratamento experimental com células-tronco.
Infelizmente, por ser antigo, o link da notícia não está mais disponível na web. Portanto, para não deixar de mencionar esse tema, posto aqui um artigo que redigi, baseado nessa notícia, como parte do trabalho escolar.
"A cardiopatia decorrente da Doença de Chagas crônica é ainda hoje uma doença sem tratamentos eficazes além do transplante de coração. Desse modo, como a disponibilidade de órgão para doação é muito baixa, a maioria dos pacientes chagásicos morre antes de conseguir o novo coração.
Esse fato impulsionou a busca por tratamentos alternativos, dentre eles o possível uso das células-tronco derivadas da medula óssea para a reparação do tecido cardíaco afetado; devido à facilidade de obtenção e à capacidade das mesmas de se diferenciar em diversos tipos celulares.
Para testar os efeitos do possível tratamento, a Fiocruz realizava, em 2004, os seguintes estudos com camundongos: nos roedores portadores da forma de Tripanosoma cruzi responsável pela cardiopatia crônica, injetavam-se células-tronco da medula óssea de camundongos normais ou chagásicos crônicos. Os camundongos que receberam o transplante apresentaram diminuição significativa da fibrose e da inflamação; e os efeitos foram duradouros.
Em estudo realizado no Hospital Santa Izabel, em Salvador, Bahia, entre 18 de junho de 2003 a 10 de outubro de 2004, 25 pacientes com insuficiência cardíaca graus 3 e 4(os mais avançados) na fila do transplante cardíaco e já sem outra esperança, foram submetidos ao transplante de células-tronco.
De cada paciente foram aspirados, com seringa, 50 ml de medula óssea da bacia, sob anestesia local. O conteúdo foi tratado e, com o auxílio de um cateter, injetado no sistema coronariano, no mesmo dia da extração. Como o material usado no tratamento de um paciente veio da medula do próprio paciente, os riscos de rejeição ou outra reação adversa foram completamente anulados, garantindo a segurança do procedimento. Um mês após o transplante, os pacientes receberam injeções diárias, durante cinco dias, do hormônio G-CSF, que estimula as células-tronco da medula a circular no sangue. A doença regrediu para os níveis 1 ou 2 e se mantém estabilizada na maioria dos pacientes, que voltaram a ter uma vida ativa e normal
Em 2005, mais de um ano depois do estudo, o vendedor ambulante Bartolomeu dos Santos Reis, 49 anos, primeiro paciente chagásico do mundo a ser tratado por esse modo, relatou sua melhora: "Sempre que sou examinado os médicos dizem que estou muito bem". Reis continuou tomando os medicamentos a que estava acostumado e se submete periodicamente a exames. Ele sabe que não está curado e ainda precisa conviver com algumas limitações físicas, mas reconhece que tudo ficou mais fácil após o tratamento com células-tronco. Embora não tenha frequentado a escola e só saiba assinar o nome, ele tem uma forma simples e eficiente de quantificar sua melhora, ainda mais para quem mora em uma cidade como Salvador, cheia de ladeiras: "Antes, eu tinha que subir a ladeira do hospital devagar, parando várias vezes. Agora, subo direto, de um fôlego só".
Apesar de reduzir a inflamação cardíaca e a fibrose, melhorar o bombeamento de sangue, a avaliação do eletrocardiograma e o desempenho nos testes de caminhada; é bom lembrar que o tratamento com células-tronco não é visto como a cura para a Doença de Chagas, visto que não interfere na infecção pelo T. Cruzi propriamente dita. Esse tratamento será direcionado à reabilitação física e ao aumento da expectativa de vida dos portadores da doença, o que não é pouco. Para comprovar a eficácia da terapia celular no tratamento da cardiopatia chagásica crônica, está sendo desenvolvido um novo estudo, bastante abrangente, financiado pelo Ministério da Saúde; e espera-se que, caso haja a confirmação, essa terapia possa ser implantada no sistema público de saúde".
Excelente post. Insuficiência cardíaca é o que mata a maioria dos chagásicos. Esta doença é uma vergonha social, é doença de pobre e nenhum laboratório ou empresa de saúde se interessa em financiar pesquisas para a cura e a recuperação dos doentes. Comparado com o enorme fluxo de recursos destinado às pesquisas contra a AIDS, o que o governo aplica nas pesquisas contra o mal de Chagas é ridículo. As pessoas que vivem nas cidades não se interessam pelo assunto, da mesma forma que não se interessam pelo combate à pobreza.
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