Mecanismos refinados para detectar mentiras


Numa era onde a ignorância, as modinhas religiosas e as falácias em nome da ciência predominam, como Carl Sagan percebeu muito bem, a cada dia se faz mais necessário um mecanismo infalível para detectar as mentiras que rolam soltas por aí, seja no boca-a-boca ou nos meios de comunicação.


Nunca conseguimos sequer chegar perto de desenvolver um sofisticado aparelho que conseguisse acusar com precisão uma informação falsa: um dos mais famosos esforços até agora, o polígrafo, foi reconhecido como tão duvidoso que seu teste já não é mais aceito como evidência confiável em tribunais.

Portanto, cabe a nós, humanos falíveis, diferenciar com a nossa própria experiência as verdades das mentiras. Para fazê-lo, a maneira mais confiável é identificar as bases clássicas da argumentação falaciosa, que geralmente pasam despercebidas: tais estratégias, surpreendentemente comuns, podem ser enumeradas e analisadas, como fez Carl Sagan em sua obra "O Mundo Assombrado Pelos Demônios- A Ciência Vista Como Uma Vela no Escuro"

Aí vão as principais:

Ad hominem - atacar quem arguenta e não o argumento. ex: o Sr. Fulano é um fundamentalista bíblico, portanto não temos motivos para considerar suas objeções à teoria da evolução;

Apelo à ignorância - considerar que,se uma hipótese não foi provada como falsa, ela é verdadeira;

Enumeração das circunstâncias favoráveis, ou seleção das observações - salientar os casos que se encaixam na teoria, ocultando-se os casos que a contradizem;

Compreensão errônea da natureza da estatística;

Post hoc, ergo propter hoc - estabelecer uma relação de causa e efeito entre fenômenos que não têm outra ligação além da cronológica. ex: antes de as mulheres começarem a votar, não havia armas nucleares (cadê a relação?);

Dicotomia falsa ou exclusão do meio-termo - considerar apenas os dois extremos dentre várias possibilidades intermediárias, muitas vezes mais prováveis. ex: Claro, tome o partido dele, meu marido é perfeito, e eu nunca acerto uma! Ou então: se você não é parte da solução, é parte do problema (A dicotomia falsa é a base mais usada na argumentação falaciosa, inclusive desdobrando-se em várias sub-bases.)

Espantalho - caricaturar uma posição para tornar mais fácil o ataque. ex: os cientistas supõem que os seres vivos simplesmente se reuniram por acaso. Tal argumento ignora totalmente a base da teoria evolucionista: a seleção natural;

Confusão de correlação e causa - Você pode provar que 100% dos pacientes declarados mortos em determinado dia no hospital beberam água até 72 horas antes do óbito, porém afirmar que a causa mortis foi a água é uma conclusão absurda (esse exemplo é um dos preferidos do Sem Problemas de Agenda);

Evidência suprimida, ou meia-verdade - ex: uma "profecia" espantosamente exata e e muito citada do atentado contra o presidente Reagan é apresentada na televisão. Detalhe importante, convenientemente suprimido: ela foi escrita antes ou depois do evento?

A análise cuidadosa das informações apresentadas em um texto deve checar a possibilidade de existência de qualquer uma das estratégias acima, além de muitas outras, menos comuns
menos relevantes.

Comentários

  1. Muito bom post. Estas armadilhas clássicas da retórica estão sempre no caminho da verdadeira troca de idéias que faz aumentar o conhecimento. São artifícios a serviço daqueles que querem manter os povos na ignorância e devem ser conhecidos e combatidos por todos os que amam a liberdade de pensar e de se afirmar o que se pensa.

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  2. A questão da compreensão errônea da estatística é exemplificada pelo Sagan com uma história do presidente norte-americano Truman. Este teria ficado preocupadíssimo ao ser informado de que metade dos seus compatriotas tinham inteligência abaixo da média...

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  3. Zanzando pela internet, achei esse link que tem TUDO a ver com o post... detalha mais algumas bases de falácias que se encontram poraí!

    http://criticanarede.com/falacias.htm

    (não dá pra postar link... mas, em todo caso, é só copiar e colar!)

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