Hydra, imortalidade e juventude eterna.

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Carnaval em Bom Jardim. Sinto-me vagamente estranho. Explico: enquanto escrevo aqui sobre imortalidade, sóbrio e sem fantasia, vejo e ouço, para além da janela da sala, as fantasias simples e rotas do bloco formado pelo pessoal aqui da roça, e o som do foguetório que anuncia sua passagem. Estranho e poético, além de barulhento.

Enquanto isso, em alguma lagoa ou rio, quase perto da gente, o que também poderia parecer imensamente estranho e bizarro até bem pouco tempo é, de fato, mais comum do que se supunha antigamente: a imortalidade de alguns de seus habitantes como a Hydra (veja a foto do simpático bichinho aí em cima). A diversidade da natureza e a complexidade dos sistemas vivos é inesgotável e desafia, constantemente, qualquer tentativa de se criar um sistema pronto e fechado para se explicar a vida e seus supostos propósitos ocultos. Sem querer criar caso: a teoria do Acaso como motor da diversidade avança lenta e inexoravelmente a cada nova "revelação". Para delírio de Darwin, Dawkins e todos os biólogos evolucionistas vivos ou mortos, mais uma vez, os "genes egoístas", (verdadeiros junkies) sem ciência ou religião, ao sabor do vento como diria Nei Lisboa, zombam da capacidade de imaginação do Homo sapiens (veja a foto do simpático bichinho aí em baixo), que a séculos persegue a fórmula da imortalidade e da juventude eterna.
Em uma de nossas primeiras postagens neste blog, intitulada "Imortalidade à vera?", já havíamos falado sobre a descoberta em mares tropicais de um pequeno hidrozoário (Turritopsis nutricula) que executa uma verdadeira "mágica biológica" logo após reproduzir-se: retornar ao estágio juvenil, cíclica e indefinidamente. Mais recentemente, cientistas de todo o mundo revelam que não só a espécie de nosso amiguinho citado acima, o tal do Turritopsis nutricula mas todo o gênero Hydra, do filo Cnidária, também é virtualmente imortal. Os animais deste gênero são muito simples e habitam lagos e rios de água doce (inclusive bastante poluídos) de regiões tropicais e temperadas. Ao contrário de Turritopsis nutricula, no entanto, que só se reproduz assexuadamente, as Hydras, sob determinadas situações ambientais adversas (leia-se: pressão seletiva), também podem se reproduzir de maneira sexuada. Imortalidade sem sexo seria um tédio...



A Hydra, na mitologia grega, era um estranho bicho com sete cabeças. Se perdesse uma delas, logo duas novas cabeças nasciam em seu lugar. Faz sentido. Biólogos do século XIX, já informavam que se a Hydra fosse separada em células individuais e estas células fossem então abandonados a si mesmas, elas iriam se regenerar uma a uma para formar uma nova Hydra. Hoje em dia, esta sua capacidade fantástica de regeneração celular é também fonte de estudo e de linhas de pesquisa. Embora muitos indívíduos do filo passem por uma mudança do corpo juvenil (pólipo) para uma forma adulta chamada de medusa, todas as hidras podem permanecer como jovens (pólipos) indefidamente. Em outras palavras, estes animais desconhecem o que seja senescência, sendo biologicamente imortais e...jovens! Sem Peelings, cremes dermatológicos ou cirurgias plásticas. Por outro lado, o grande barato por trás destas descobertas é a mudança tática no "jogo da Evolução". Alguns biólogos evolucionistas já defendiam a algum tempo que o objeto da Evolução nestes últimos bilhões de anos eram os genes (trechos do DNA) e não o indivíduo ou a espécie, conforme pregam as religiões. Passando de geração a geração e cada vez mais aperfeiçoando suas "máquinas de guerra" ( desde espécies unicelulares até espécies complexas como a nossa) tem se perpetuado ao longo do tempo. Mas, agora (agora para o Homo sapiens, bem entendido) parece que uma outra experiência evolutiva está em curso: a imortalidade do indivíduo. Aonde vai dar isso? Somente a Seleção Natural tem a resposta.
Quem viver (prá sempre) verá...
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