Ricardo C. Salles


Duvido que vocês conheçam um cara chamado Ricardo C. Salles. A não ser que seja um homônimo sem brilho. É, porque este de quem falo é um fenômeno curiosíssimo: uma supernova que brilhou no universo da linguística brasileira como talvez nenhum outro antes, tendo escrito dois belos tratados, chamados por ele de dicionários e prefaciados por Antonio Houaiss, o que não é pouca coisa, e mais um agradabilíssimo livro de “espera” enquanto não chegavam suas fitas (década de noventa) de gravações de falares de povos ameríndios e polinésios. Pois ou as fitas não chegaram e nem chegarão, ou o cara, que não é um lingüista profissional, está atarefado demais com sua ocupação principal.

O Legado de Babel é um projeto ambicioso. No primeiro volume, de 1993, Salles nos brinda, em formato de dicionário, com uma criteriosa e muito completa descrição das línguas indo-europeias, seus ramos, regiões de ocorrência, história e número de falantes, recheada de exemplos e comparações. Seu segundo volume, saído um ano depois, deve ter sido muito mais difícil de produzir, pois, no mesmo formato, apresenta as línguas altaicas e uralianas, completando-se o tomo com o coreano e o japonês. Sabe lá o que é pesquisar e sistematizar o estudo de línguas tão díspares, tão distantes e tão desconhecidas para nós como o mogul, o azeri, o iacuto, o carélico, o orok, o morduíno?

Seu projeto previa um terceiro volume, no qual o autor se debruçaria sobre as línguas ameríndias, esquimós e aleútes, e um quarto volume, que seria dedicado às línguas semíticas, camíticas e africanas. Para isto, no entanto, era necessário dispor de um vasto material documental vindo de diversas partes. Mas ele, enquanto aguardava o envio de encomendas fonográficas, fotográficas e de outros tipos, que chegariam de lugares como bibliotecas e museus americanos e siberianos, mas que não chegaram nunca, resolveu “matar o tempo” e escrever o saboroso Passeando por Babel, também de 1994, livro composto de “artigos” diversos, quase crônicas, nos quais destrinça etimologias, costumes, preconceitos e confusões em diversos planos com a desenvoltura quase de um romancista.

Espero rever Salles nas livrarias um dia e levar para casa uma nova aventura.

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