Mas é claro que gosto se discute. Este foi, aliás, pelo que posso avaliar agora, o meu grande e maior problema naquela experiência estudantil de militante de esquerda dos anos 70. Havia no ar um claro problema sobre concepções estéticas que simplesmente ninguém ousava levantar. As mulheres não queriam ser bonitas, nem usar perfume, nem fazer o cabelo ou as unhas. Sequer brincos, daqueles exuberantes e mais sensuais, eram bem vindos. Todo mundo se policiava para evitar o carimbo de parecer burguês rançoso. As mais gostosas se fechavam em casamatas ideológicas e mesmo na mais inocente das cantadas trituravam o paquerador com intermináveis discursos sobre o seu machismo porco. Trepava-se muito, é verdade, mas isso tinha mais a ver com alívio da libido natural que qualquer outra coisa. Ciúme e exclusividade eram anátemas. Duvido que tudo aquilo fosse pleno. Nada de fantasias, espartilhos pretos, luz de velas ou das maravilhosas calcinhas de puta que tanto enlouquecem os homens.
A única imagem aceitável se fechava no mito da estética operária. Ou, pelo menos, do que imaginávamos ser a tal da estética operária. As fêmeas, para evitar a pecha “objeto de consumo”, vestiam-se como marias-mijonas. Quanto mais embrulhadas em sacos, mais pés sujos e cabelos desgrenhados, melhor. Os machos, também, procuravam se encaixar no estilo brucutu. Eu, inclusive - a foto da minha carteira de identidade não deixa dúvidas. E bem me lembro que alguns de nós, pensando estar avançando na luta, se proletarizaram. Curtíamos a idéia de que pequeno-burgues, classe média confusa, jamais conseguiria entender como pensava de verdade a classe operária a não ser que fosse parte real dela. Com todo o espírito popular e suburbano que se tinha direito. E então alguns que estudavam filosofia foram arranjar empregos de fresadores na indústria metalúrgica. Sirene de início de jornada, entrada em formação de gado para o abate, trabalho alienado em linha de montagem, esporro de capataz, suor e palito nos dentes, tudo isso teria de fazer parte da vida. O plano era formar lideranças sindicais fiéis à nossa linha revolucionária. E, para um quadro completo , pintava-se o visual adequado. Um amigo que entrou nessa foi fundo. Deixou que as costeletas crescessem horrorosamente e ainda acrescentou um ridículo um bigodinho ralo, daqueles de malandro da antiga.
Por falar em visual operário, acredito, sinceramente, que nem tudo foi edição da Globo naquele debate final entre Lula e Collor nas eleições de 1989. Collor, apesar da aura cafajeste que não enganava ninguém, mostrou-se firme, dinâmico, agressivo, sedento de poder. Olhou nos olhos, vestia um terno impecável num corpo em completa forma. Já Lula, gordinho, barba assimétrica, quase um palmo mais baixo, parecia estar se recuperando de uma ressaca. A última intervenção foi dele que, qual lorpa de ponto de ônibus, deu um bico na oportunidade. Ainda guardo a última frase bem nítida na memória: “vou mostrar que o caçador de marajá não passa de um caçador de maracujá”. Quando ouvi esta jóia do pensamento indigente, entrei em pânico e pensei comigo: “fodeu”. Não que alguém deixasse de votar no Lula por aquilo. Mas foi uma ducha friíssima para os que se empenhavam na caça aos indecisos. E o combustível que faltava ao outro lado para abafar a fraude onde ela fosse possível.
Desde então fiquei convencido de que as pessoas, enquanto massa, não querem um igual. Querem um messias, alguém que minta descaradamente dizendo que pode caminhar sobre as águas. Reparem que a popularidade de Lula não parou de crescer quando ele deixou de lado a retórica igualitária e assumiu a imagem de Moisés que o povão tanto desejava.
Mas, em matéria de teoria da imagem, nada se comparou ao que John Kennedy fez. Li e reli biografias diversas do cara. Kennedy não tinha idéia firme sobre coisa alguma. Oscilava, por conveniência, da mais extrema direita ao centro democrático. Tinha porém, domínio completo sobre uma arma devastadora : o charme. Traz, até hoje, a mística do príncipe dos sonhos.
Até que Obama chegou perto em termos de sex-appeal. Mas aquele cabelinho esticado da Michele é de lascar.
Lindinho... cabelinho da Michele é bico...de lascar é a Dona Marisa "a Múmia", passeando fora do Brasil vestida de paraquedas e se achando "chic" benhê. Eu não vivi esse clima ripongo, mas lembro de meus primos e principalmente da namorada de um deles que usava cabelo ensebado, sandálias de borracha negra e unhas enormes e negras por baixo tanto as dos pés como as das mãos.. e depois de "grande" consegui entender o comentário de uma prima carioca.... "como o Flá consegue comer aquilo" diga-se de passagem o Flá tb era (e é)um "aquilo", kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk..
ResponderExcluirQto ao sapo barbudo, monstro do pantano... dessa vez to com medo que a mãe do CHUCK emplaque.
Bjusssssssssss.
A "mãe do Chuck" é a Dilma, Cassinha ?
ResponderExcluirEntão, a eleição deste ano vai ser a própria "Hora do Espanto".
O Serra é a cara do Frankenstein.
Beijão
saudades virtuais.
ResponderExcluirSe imagem é 90%, pq vc não coloca ilustração nos seus posts?
ResponderExcluirÉ que o Ernani ilustrava os posts com um jeitão muito mais competente.
ResponderExcluirFalar nisso, onde está Wally ?????
Será que vamos passar a Copa do Munda toda sem dividirmos uma cervejinha numa partida qualquer?
Em tempo: ESTAREI DE FÉRIAS DE PONTA A PONTA !!!
Ernani ficou pissed off comigo. Por causa de um post que eu tinha feito reclamando de um dos gadgets que ele tinha posto no blog. A gente tem que ter cuidado com a forma com que escreve, pq, dependendo do estado de espírito de quem lê, pode ser misunderstood, you know? Eu tirei o post assim que ele chiou, expliquei que a intenção não era espinafrá-lo, mas ele achou por bem retirar os gadgets para posterior discussão.
ResponderExcluirPerdemos todos, mea culpa.