E foi assim. Na última segunda, depois de nove horas no trabalho, peguei, por volta das 17:30, um ônibus da linha Copacabana-Meier. Na manhã seguinte, seis e meia , lá estava eu, qual um zumbi do Thriller, chegando no meu bairro. Nada menos que treze horas achatando a bunda.
Depois dessa, não devo mais nada àquelas figuras do BigBrother que ficam bancando os palhaços pela madrugada adentro nas provas de resistência.
Quando subi, a chuva começava leve. Nem de longe qualquer contratempo me passou pela cabeça. O motorista andou bem até a Central do Brasil. Mas, dali até a Praça da Bandeira, coisa de uns seis ou sete quilômetros, fomos arrastando pela pista das seis até à meia-noite. Mais da metade dos passageiros perdeu a paciência e desceu. Ainda bem. Os que ficaram pelo menos tiveram o conforto da outra metade do banco para esticar as pernas. Entre irritação e bom humor, aconteceu muito de solidariedade. Biscoitos e água foram fraternalmente distribuídos por quem ainda tinha. Um dos nossos acompanhava tudo pelo rádio do celular e repassava as informações. Quando disse que arrastões estavam acontecendo por toda a cidade, a coisa ficou tensa. Um garotão com pinta de discípulo dos Gracie tomou a palavra e fizemos uma assembléia relâmpago. Se o arrastão fosse só de pivetes e desarmados, partiríamos pra porrada. Decidido isso por aclamação. Todos queriam mesmo dar uns bons sopapos em alguém. E um mameluco folgado, de careca desenhada e chinelos de dedo seria um presente dos céus. Agora, se viessem de trabuco na mão, nada a fazer senão entregar tudo de bom grado. E o mais rápido possível. Num assalto à mão armada, o pior que pode acontecer é a chegada da polícia. Hábeis como são os nossos homens da lei, a coisa costuma acabar numa bala perdida sendo achada no corpo de quem nada tinha com a história.
Mas na verdade, na verdade mesmo, o Judas que queríamos para dar uns tabefes era o prefeito. À uma da matina, naquele ônibus e em muitos outros, as virtudes da mãe do Eduardo Paes já não valiam um bolívar venezuelano.
A maior parte do tempo é puro tédio. Tenho dificuldades de sequer cochilar longe do meu travesseiro duríssimo. Minha distração, pois, variava entre folhear um livro sobre arquitetura e ouvir o mp3. Virei 180 músicas até que pilha pifou. Mas o melhor mesmo foi acompanhar a movimentação pela janela. Durante toda a noite, multidões errantes, com guardas-chuva ou não, andavam e andavam para lugar nenhum em aparente estado de choque. Nas correntezas rentes ao meio-fio, lixo e mais lixo. Cá entre nós de casa: o carioca, de maneira geral, é um filho da puta muito do porcalhão. Percebo isso quando passo pelas praias nos finais de tarde. Um norte-americano esperto, aliás, está fazendo fortuna encapsulando lixos de várias grandes cidades do mundo em graciosas caixas de acrílico. Vende as peças para decoração. Ele ficou impressionado com a variedade do material achado em nossas ruas. Na peça que batizou “Rio de Janeiro” tem camisinha-de-vênus, seringa suja, fralda mijada, absorvente tipo “ob” (inchado) etc.
No balanço geral das possibilidades do amor fugaz, a aventura merece nota zero. No grupo, havia uns dois ou tres rapazes boa-pinta. As meninas todas ficavam entre feinhas e barangas incomíveis. Não deu liga. Quando as luzes se apagaram não ouvi qualquer smack. Nem gemidos. Aquela velha história de que à noite todos os gatos são pardos deve ter sido inventada por um avestruz.
putz.
ResponderExcluirqueria dizer algo mais, mas nem sei, viu?
coitadas das barangas incomíveis.
Foi puro azar estatístico, Dolly.
ResponderExcluirExistem, também, as barangas comíveis.
Algumas, aliás, muuuuito comíveis. (gargalhadas)
Título bom,(questionar a furiosidade da natureza ou a naturalidade dela???), detalhes produtivos (como o do carioca porcalhão)....
ResponderExcluirPrecisamos rever nossa postura, nosso viver sobre um mundo tão mutável. Precisamos repensar nossa filosofia, nossa forma de encarar a vida.
Segunda feira ? Nossa, o guarda chuva parecia adereço para se dançar frevo !!!! Chuva com vento é sacanagem....
ResponderExcluirMe lembrou, não sei porque, aquelas mulheres, trabalhadoras da Du Loren, que trocam os soutiens velhos por novos e jogam nos lixos, entupindo os bueiros na Av.Brasil...
Meu companheiro de banco de ônibus, era um porteiro muito gato....kkkkk
beijo pra voce, Alipio
Mas depois de treze horas, Maríla, acho que até esse gato aí ia virar sapo-boi.
ResponderExcluirBeijo pra você.
PS: Vamos brincar de adivinhar quem é o "Anônimo"? Ou será que são vários?
Esse "Anônimo" aí de cima é mulher...
ResponderExcluirMas existem vários por aqui...