Muros, verba e preservação


Recentemente, foram publicadas, nos jornais de circulação nacional, notícias e editoriais comentando a construção de muros por trás das favelas, com o argumento de impedir a expansão das mesmas em direção às áreas de floresta. Tal discussão divide opiniões: trata-se de uma medida de preservação ambiental, como alegado, ou de mais uma maneira de segregação social?

Inicialmente, sabemos ser inegável a ocupação desordenada que invade áreas destinadas à preservação ambiental, o que agrava os desabamentos nas encostas. O muro seria, portanto, um recurso válido para combater esses problemas, constituindo uma barreira mecânica (e imponente!) à expansão da favela.

Por outro lado, verificamos que, na construção do mesmo, há grande gasto de verba para uma medida claramente simplista: um muro não leva em consideração as causas sociais da ocupação irregular e dificulta o policiamento local, além de gerar entulho e poluição, o que prejudica o ecossistema e acaba por contrariar o objetivo inicial.

Dado o exposto, não é difícil perceber que, mesmo tendo por objetivo a preservação, e não a segregação, o muro materializa nossas clássicas políticas governamentais, reconhecidamente ineficazes. Uma solução alternativa, além das conhecidíssimas propostas de melhoria urbanística e de infraestrutura nas comunidades já estabelecidas, seria leiloar as áreas florestais para a construção de reservas privadas (RPPNs); estabelecendo limites legais (e intransponíveis) para os terrenos e transferindo parte dos investimentos em reflorestamento para particulares.

Comentários

  1. Muros são feitos para serem derrubados! Não há alternativa que não seja a mudança de consciência ambiental. Beijo!

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  2. Sem dúvidas, Ernani. Mas, infelizmente, não podemos parar na conscientização. Essa é somente a ponta do iceberg: é preciso melhorar as condições de construção para as famílias de baixa renda e disponibilizar serviços básicos de saneamento e pavimentação, talvez com limites mais subjetivos do que muros.

    Sugeri a criação de RPPNs nas áreas florestais porque já me hospedei em uma, e pude constatar que a coisa funciona: na reserva a que eu fui, em Majé, passa um rio que se encontra em ótimas condições, cuja água canalizada e filtrada é usada para abastecer as torneiras e a piscina; há uma horta e um pomar que fornecem boa parte dos alimentos a serem consumidos, fresquíssimos, na cozinha da pousada; uma oficina de mosaico, incentivando o reaproveitamento, e muitas outras agradáveis surpresas.

    Acho que nosso município precisa desse tipo de incentivo. Seria uma boa alternativa para diminuir a necessidade do emprego de verbas públicas para preservar a floresta. Resta saber como pôr em prática!

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