PAIXÃO QUE NÃO ME ALUCINA


Já deu no saco, meus amigos. Esse negócio assumir nossa identidade africana, pelo menos no que diz respeito ao amor pelo barulho, atiçou de vez a parte do meu cérebro que odeia o politicamente correto. Como diria aquele cartaz do halloween: África é o cacete!

Não sei se a babaquice pegou aí no Jardim Botânico e no Leblon. Mas, aqui, na república popular do Méier e adjacências, com toda certeza, será o mês das vuvuzelas. Algumas sopradas por crianças, outras potencializadas por ar comprimido. Um inferno. E essa eu tinha de ter previsto. O pessoal daqui do meu bairro sempre adorou um esporro. Por qualquer motivo, e a qualquer hora, solta rojões caramuru (aqueles que não dão chabu). Sem colocar isso no cálculo, qual pascácio inadvertido, marquei minhas férias exatamente para estes tempos de Copa do Mundo. Pois, descanso e leitura já foram pras picas e devidamente retirados da programação.

Não se enganem com a ira circunstancial, porém. Eu adoro futebol. O que acontece é que não entro nessa pilha de coração verde-amarelo, pátria de chuteiras etc. Não acho mesmo que a honra do meu país esteja em jogo num mero campeonato. O hino nacional não me emociona. E, se querem saber, às vezes nem mesmo torço pelo Brasil. Principalmente quando ele se apresenta tacanho e burocrático, exatamente como está agora. Apesar de ter quase sempre os melhores jogadores disparado.
A equação, pra mim, é muito simples. Ser brasileiro é coisa que me foi imposta pelo acaso. Não que ache uma tragédia mas, se me fosse dado escolher, acho que teria preferido ver a luz na Noruega ou no Canadá. A pecha de ser periferia econômica, de ser conhecido apenas como o país do futebol, do samba e do fio dental serrando bundas gostosas por muito tempo me incomodou e me incomoda. Não há, portanto, qualquer orgulho ou arrepio naquele momento supostamente mágico em que nossas cores e bandeira adentram o gramado. Se o Brasil joga bem, vibro. Se não joga e merece perder, amém.

Minha irracionalidade de torcedor só acontece mesmo com o Fluminense. Aí, sim, esse eu escolhi pelas cores vivas e no impacto do amor à primeira vista. O paradoxo é que, ao contrário do Chico, não gosto muito de acompanhar as partidas do meu tricolor. Minhas mãos ficam geladas, a cada lance perigoso – pró ou contra - a taquicardia atinge limite insuportáveis. Prefiro saber do resultado depois. Acredito que você, com o seu time, também seja assim. E tanto quanto você, eu torceria fanaticamente por ele se acontecesse um confronto com a seleção brasileira. O escrete canarinho, tenho absoluta convicção, é apenas e só apenas o “segundo” time de qualquer um. Nada além.

E, para colocar mais lenha na fogueira, vai aqui uma confissão. Eu adoro o futebol vigoroso e emocional dos argentinos. Quase nunca consigo torcer contra os hermanos porteños. Nesta copa sul-africana, inclusive, por causa do Maradona, acho que muito lá no fundo, quero mesmo é que a Argentina saia com o caneco. Não só porque ele falou que vai dançar pelado. Eu gosto pacas do Dieguito. É um cara autêntico, turrão, sim. Escancara suas fraquezas humanas sem medo. Mas é um caráter que, de maneira nenhuma, pode ser comparado, por exemplo, com o do nosso Pelé. Admito que o negão foi um craque muito mais completo com a bola nos pés. Como homem, entretanto, nada mais me passou que sensação de nojo. Não posso deixar de definir como canalha um sujeito que se recusou a reconhecer uma filha e nem sequer teve a hombridade de comparecer aos seus funerais.

Pelé é a imagem de um Brasil filho da puta e dissimulado. Maradona, de uma Argentina arrogante - mas pelo menos engraçada.

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