SAUDADES DE UM DIA SEGUINTE COM AQUELES FANÁTICOS ADORÁVEIS


O amor por um time de futebol é sempre muito mais duradouro que o amor por uma pessoa. À exceção de alguns vermes desprezíveis que viram a casaca, ninguém, ninguém mesmo, lá no fundo do coração, consegue abandonar o clube escolhido. A Santa Madre Igreja bem poderia aprender com isso. Quando se trata de torcida, o casamento é mesmo até que morte separe. Muitas vezes, nem a morte. Torcedor que é torcedor leva a bandeira do clube junto com o caixão.

Aliás, taí o mistério dos mistérios. Quando a família não influencia, o desconhecimento científico sobre o processso de escolha de cada um é total. Normalmente, a paixão acontece numa inconsistência tão grande quanto qualquer outra. A minha, por exemplo, pelo Fluminense, aconteceu quase que num “coup de foudre” - calma, traduzo, quis dizer “amor à primeira vista”. A coisa veio assim como uma tsunami observada no horizonte e que me pegou hipnotizado pela beleza. Juntou cor, com nome, com a vibração do locutor de rádio, com um monte de sei-lá... Não houve influência em casa. Meu pai, vascaíno doente, morreu quando eu tinha dois anos; minha mãe não ligava a mínima para jogos de futebol.

Torcer, entretanto, pelo menos pra mim, já fui muito mais emocionante. O campeonato carioca, aquele que era disputado na Guanabara com os dez times da cidade, tinha um sabor mais temperado e dava uma enorme exuberância aos finais de semana. O segredo disso estava nas segundas-feiras. Como seria nossa segunda-feira depois daquele Fla-Flu? Ou dos botafoguenses depois do jogo com o Vasco?

Tanto quanto o próprio clássico, o povo do Rio de Janeiro aguardava sempre com ansiedade o que escreveria aquele grande jornalista no dia seguinte.
Ao contrário dos profissionais tão esforçados pela correção neutra de hoje, os grandes cronistas dos grandes jornais de antigamente assumiam de cara aberta o fanatismo por seus times.

Um dos mais interessantes, caricatos e geniais foi o grande Ari Barroso. O autor de “Aquarela do Brasil” recusou, inclusive, um convite para trabalhar com Walt Disney, feito pelo próprio, apenas porque a Califórnia não tinha um Flamengo por lá. Ari, o mais fanático de todos os flamenguistas já existentes, chegou um dia a torcer pelo Fluminense. Mudou de lado depois do jogo em que o tricolor foi derrotado por um tal de Andaraí. E principalmente porque não pagou a mensalidade de sócio do clube e foi expulso dos quadros. Também era locutor de rádio. Certa vez, proibido de entrar em São Januário, irradiou um jogo trepado no telhado do Ginásio Pio Americano - acompanhou toda a partida com um binóculo de marinheiro.

Outro inesquecível foi o botafoguensíssimo João Saldanha. Este, conheci pessoalmente. Um papo de boteco maravilhoso, embora com aquela mania de falar batendo com a mão no peito dos outros. Contava mentiras suculentas e se mantinha como centro das atenções por horas. Dizia ter acompanhado a Longa Marcha com Mao Tse Tung. Ele era um daqueles comunistas cocacola, de meia-tigela, inofensivo tanto quanto Oscar Niemeyer. Inventou um personagem – Neném Prancha - criador de frases impagáveis, obrigatórias em qualquer antologia do futebol. Na verdade, Neném Prancha era nada além de um escondido e tímido roupeiro no Botafogo, As frases vinham todas do próprio Saldanha. Uma das melhores: “se macumba ganhasse jogo, o campeonato baiano terminava empatado”.

O mestre dos mestres, porém, foi Nelson Rodrigues. Tricolor até no osso, tinha sempre uma explicação inesperada para qualquer coisa boa ou ruim que acontecesse ao Fluminense. Certa vez, seu personagem, “O Profeta”, disse que o Flu ganharia o próximo clássico contra o Fla. No fim do jogo, deu Flamengo quatro a um. Cobrado pelos leitores, Nelson não abriu a guarda. Disse que o Profeta não errou. O problema é que o que aconteceu no diabo daquele jogo nem mesmo Deus poderia imaginar.

Em dias de derrota, como este do Brasil pra Holanda, sinto falta de ler alguém como eles.

Comentários

  1. Postei comentário no orkut, hehehhe to com preguicinha de escrever de novo, kkkkk.

    Sabe só o que to esperando agora, ver o Maradona pelado, deve ser hilário, kkkkkkkkkkkkkkk.

    Bjusssssssssssss

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  2. Fizeram uma grande sacanagem com o Nelson, depois de morto. Um dos Benjamin, não sei se o Cid ou o César, redigiu um texto imitando o estilo do Nelson e elogiando o Flamengo! Estavam editando um livro com crônicas dele e apresentaram a farsa como uma descoberta de um inédito do grande tricolor, tudo pra tirar um sarro do Nelsinho filho. O negócio saiu do controle e muita gente acreditou que era verdade, e até hoje se vê por aí rubro-negro apresentando a "prova" que o Nelson Rodrigues era flamenguista. Um ato abominável e imperdoável.

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  3. Então o Lula está mesmo com toda razão: os Benjamin não têm a menor credibilidade.

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  4. Buaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa e eu fiquei sem ver o Mara, correr pelado em volta do "eubelisco", kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
    Continuo sem saber se é verdade a história, do anão feliz e do gigante triste, kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
    Bjkssss.

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