Salvo melhor juízo, nem você nem eu precisamos ficar assim tão preocupados com essa história de vazamentos de dados dos bancos ou da Receita Federal. Sigilo bancário não foi feito para proteger quem vive de salário. E sigilo fiscal não foi criado pensando nos pobres mortais que pagam imposto de renda com desconto na fonte.
Baixemos, pois, a bola os nós moralistas do meio da pirâmide. O papo interessa mesmo é pra quem está em cima, no campo no joguinho do poder. Só.
De qualquer forma, vale a pena tentar entender que realmente está se passando. Ou morrermos na superfície das historinhas contadas pela metade, tão insistidas na vozes do casal JN. Em se tratando de Globo, as usual.
Sigilo bancário é invenção tipicamente suíça. O espírito da lei, no caso, tem, ao mesmo tempo, origens nobres e sórdidas. Em 1934, os banqueiros de Zurique decidiram proteger os alemães que mandavam dinheiro grosso pra lá, bem longe das garras de Hitler. A decisão de manter os depositantes no anonimato tinha verniz humanitário. A Alemanha nazista penalizava com a morte os responsáveis por evasão de divisas. Justo, pois. Mas a outra motivação, a que mais pesou, foi bem mais sacana. Os protegidos, no caso, foram os mais de dois mil políticos e magistrados franceses - denunciados pela esquerda – que mantinham, na terra de Zwinglio, contas misteriosas e com saldo inexplicável.
Já o sigilo fiscal, claro, tem origem norte-americana e dedo do partido Republicano. Uma espécie de pacto entre o empresariado emergente do início do século passado e o Estado. Eu digo o quanto ganhei , você acredita e me cobra o devido tributo. Se eu estiver mentindo, me fodo. Mas cabe a você, o Estado, provar. E o “provar”, evidentemente, fica por conta da habilidade dos agentes do tesouro e da boa vontade da justiça. Nada, portanto, de moleza de dados sob domínio público, divulgação pela imprensa etc. O capitalismo de Tio Sam se fez muito no formato do se-eu-fizer-desta-forma-ele-não-me-pega.
No velho Brasil de guerra, tanto o sigilo bancário quanto o fiscal funcionam como poderosas armaduras para lavagem de dinheiro e sonegação generalizada. Pense aí em uns vinte nomes quaisquer de figurões que deveriam estar na cadeia mas estão soltos e aprontando todas. Aposto uma caixa de charutos cubanos que ninguém põe as mãos nesses caras por causa do sigilo. O sigilo, por aqui, é quase uma religião dos efedapê. Eu sei quanto ganha, por ano ou filme, o Robert De Niro. Mas não faço a menor idéia de quanto ganha o Faustão. A Globo acha que isso não é da minha conta, apesar de ela ser sustentada com o meu dinheiro – via Caixa Econômica, via Banco do Brasil, via Petrobrás, via BNDES etc.
As grandes fortunas brasileiras são o fruto doce dos bons negócios que os mais espertos conseguem fazer com o poder público. O pulo do gato, para isso, são os bons contatos.
É aqui que entra essa tal de Verônica Serra.
Mocinha esperta, a filhota.
Era uma das sócias de uma empresa de lobby chamada “Decidir.Com Inc.”, com sede na Argentina. Por que na Argentina? Não faço a menor idéia. Mas a empresa, em seu site, definia sua vocação: “encontre em nossa base de licitações a oportunidade certa para se tornar um fornecedor do Estado”. Que tal? Fecho um contrato com a Verônica Serra, ela dá um telefonema para um governador qualquer do PSDB e... pronto. É só correr pro abraço.
Em tempo: a sócia da Verônica Serra era uma certa Verônica Dantas. Filha do banqueiro Daniel Dantas. Os dois estiveram presos, lembram?
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