GLOBO E ELEIÇÕES: SOBRE OS BOTES DA VELHA SERPENTE GOLPISTA



Com ou sem Roberto Marinho, não se pode negar um coerente estilo histórico no modo como o olimpo da vênus platinada costuma entrar numa roda quente e tentar decidir a parada. A tática é simples: apenas e tão somente mandar pras picas o princípio de Maquiavel de que o mal a gente tem de fazer todo de uma só vez. Não funciona assim. Não mesmo. Melhor usar Goebbels. Marteladas todos os dias até que o barulho enlouqueça.

Isso funcionou algumas vezes.

Deu até em suicídio de presidente.

Nos idos de 1954, o Globo era o porta-voz ofícioso de uma ala de deputados de extrema-direita conhecida como “banda de música da UDN”. Eles se revezavam na tribuna do parlamento para, todo santo dia, fazer uma denunciazinha qualquer. Uma idéia simples e eficiente. Entre muitas mentiras misturadas com algumas verdades, passar a impressão de que no governo Vargas nada mais acontecia além de sujeira e corrupção. O que estava no script era o golpe de Estado. Mas o velho resolveu dar um tiro no próprio peito. Os deputados da banda tiveram de se esconder do povão enfurecido, covardemente. Assim como toda a cúpula do Globo. Isso não impediu que a sede do jornal fosse apedrejada e todos os caminhões de distribuição incendiados.

Mas, assunto esfriado, a tomada do poder acabou acontecendo dez anos depois.

Muito cedo ficou claro o que é que o grupo dos Marinho realmente queria: mandar no governo e se servir dele o quanto pudesse e quisesse. Foi assim que a televisão se consolidou nas mãos da família do dr. Roberto. Em 1971, um enorme empréstimo da Caixa Econômica Federal foi liberdo e o império se consolidou. Dirá alguém aí que empréstimo é mera operação comercial em que o banco recebe tudo de volta com juros e correção. Só que, no mundo dos negócios com a Globo, a matemática financeira segue um caminho mais complexo. Ela paga fazendo contratos de publicidade no exato valor. E muitas vezes nem isso. Os tempos de hoje ainda são de vacas gordas. A Vênus abocanha nada menos que 41% das verbas de propaganda do Governo Federal e estatais. Nos tempos da ditadura militar, as vacas tinham obesidade mórbida. Nada menos de 78% da dinheirama ia parar no Jardim Botânico.

A raiz da pendenga insistente da Globo com o governo Lula não está no que o casal JN diz todos os dias às oito da noite. O que incomoda mesmo a esfomeada família é o projeto de TV estatal que o ministro Franklin Martins vem incubando. Com ele, boa parte da grana pública destinada aos anúncios vai mudar de mãos. Isso, para eles, é inaceitável. Daí, a obsessão por um segundo turno. Roberto Irineu, à imagem e semelhança do pai, quer aumentar o seu cacife na disputa. Dilma vencer no primeiro turno será a tragédia das tragédias.

O cenário ideal, para a Globo, sempre foi o do beija-mão que os militares, Tancredo, Sarney, Collor, Itamar e FHC sempre fizeram com humilhante reverência. Tancredo dizia que seria capaz de brigar com todo mundo, até com o papa - nunca, porém, com Roberto Marinho. Daí, teve de nomear Antonio Carlos Magalhães com ministro das comunicações, imposto pelo patriarca. No governo Sarney, o ministro Maílson da Nóbrega só pegou o cargo depois de uma completa sabatina na residência do cidadão kane. Collor foi degolado por tentar um esquema próprio. Itamar e FHC seguiram a cartilha direitinho.

Mesmo Lula, ainda assustado quando eleito para o primeiro mandato, teve de contar com o beneplácito da toda-poderosa e acabou convencido pelo Antonio Palocci a aceitar uma tal de “Carta aos Brasileiros” – um documento que dizia que praticamente nada mudaria.

Felizmente, ao que parece, graças à mesma Internet que elegeu Obama, a população já sabe diferenciar o que é denúncia sincera da denúncia congelada para aquecimento no momento conveniente. Não é a moralidade que está em jogo. Até porque em todos os grandes escândalos eleitorais envolvendo fraudes na contagem dos votos, manipulação de debates etc a Globo sempre esteve envolvida . Em todos. Sem exceção.

Outubro será um péssimo mês para eles.

Comentários

  1. E não é só a Globo. Toda a "grande imprensa" partilha a mesma tática denuncista e o mesmo ódio desmesurado ao Lula. Ódio que o molusco presidencial tem sabido utilizar muito bem, construindo sua imagem favorita, de vítima inocente dos preconceitos de classe das elites.
    Também à banda podre do governo (sim, eu sou um otimista!) este ódio de se babar na gravata tem servido. Ele empresta alguma credibilidade à tática dos podres, de desqualificar as denúncias das suas falcatruas atribuindo-as às intenções golpistas da imprensa.
    O fato inesperado, no entanto, é que quanto mais eles bateram no Lula, mais cresceu a popularidade do presidente. Só isto já sugeriria ser útil mudar o tom das críticas, mas parece ser impossível, pelo tanto que este ódio se disseminou.

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