Dia dos Pais


Hoje mesmo (post fresquinho!) quis dar um presente especial para o meu pai. Sentei em frente ao PC, determinada a escrever um texto bonito, e saiu isto aqui (e muitas lágriams saíram junto...):

"Eu lembro claramente, pai, como se fosse hoje, as incontáveis vezes em que você, orgulhoso, relatou a todos os seus amigos, sem exceção, aquele episódio no qual eu, então com apenas cinco aninhos, te perguntei "papai, por que o tempo passa?", e você me deu aquele brilhante exemplo da xícara que cai ao chão e se quebra, afirmando que os cacos nunca voltariam a se juntar sobre a mesa, e com isso provando que o tempo passa, e em uma direção só, e ressalta, toda vez que conta esse caso, que eu, a criancinha loira e curiosa de cinco anos de idade, consegui compreender com facilidade um conceito que todos julgariam difícil e abstrato.

A cada vez que você elogiava minhas provas e meu boletim que eu cheia de alegria te mostrava, e você dizia que eram seu orgulho, eu me enchia de gratidão por cada pequenino algarismo de cor azul impresso naquela pequena folha. Afinal, se não fosse por sua ajuda, o que seria das minhas notas, ou mesmo do valor tão elevado que eu cheguei a dar às disciplinas de Humanas? Você me ensinou não só a compreender o que estava escrito no livro de Sociologia Básica, mas também, e muito mais importante, a aplicar esses conhecimentos na vida prática, me ensinou a importância da consciência política enquanto me fascinava com a uma ou aventura do militante Otto, e eu feliz da vida penso e digo "Otto é o meu pai!".

Lembra, pai, daquele distante dia dos pais em que eu comprei um cartãozinho do Garfield, que, igual a você, e a mim també, adora comida, sarcasmo e um bom cochilo, que tinha escrito assim: "Todo mundo acha que tem o melhor pai do mundo... eu sou uma exceção, eu TENHO", ao que eu acrescentei "seja feliz, porque todo dia é dia dos pais"? Eu sei que ele ainda está guardado num lugar especial, na nossa lembrança, nos nossos corações e em alguma gaveta que guarda outras coisas importantes.

Desde criança eu quero ler as mesmas coisas que você, o primeiro gibi que eu li, (antes mesmo de eu conhecer a Mônica) foi Calvim e Haroldo, que peguei para ler quando o vi dando sopa no banheiro da nossa antiga casa, e pelo qual tenho um apreço especial até hoje... Ao longo do tempo li também Asterix, Chiclete com Banana, Piratas do Tietê, que contribuíram para minha atual paixão pela linguagem dos quadrinhos, paixão essa a que pretendo um dia dedicar minha vida profissional. Foi você que me apresentou aquele gibi que hoje é meu preferido e provavelmente será para sempre, e toda vez que penso em "MAUS" lembro que devo a você, meu pai, o contato com essa brilhante e comovente obra, e também que foi você que me explicou a fascinante alegoria entre os animais desenhados e os povos por eles representados.

Toda vez que me deparo com um desafio á lógica ou ao comportamento, busco mimetizar seu racionalismo crítico e cético que eu tanto admiro, e acho que melhorei bastante depois de ler a quele livro do Carl Sagan, que talvez por acaso você estava lendo e eu peguei da sua estante, e gostei tanto que me dediquei a resumir um capítulo e postar no nosso blog, numa postagem elogiada por todos os colaboradores, inclusive (e principalmente) por você.

E quando prestei o vestibular, que você me disse repetidas vezes para não ficar nervosa porque você, sendo meu pai, tinha certeza que eu passaria com destaque, e continuaria fazendo jus à fama que tinha nos tempos de colégio? E eu pensei que tudo isso se tratasse de mero orgulho ilusório de pai coruja, mas depois que vi aquele imponente "A", o único da minha classe, estampado na tela do meu antigo monitor (que você escolheu pra mim, lembra?), percebi que você tinha mesmo razão... E depois que entrei na universidade, tomada por crises repetidas de ansiedade, não sei o que seria de mim se você não viesse segurar minha mão noite após noite, só para me ajudar a dormir, pai... E quando eu, deseperada por algum remédio que me permitisse dormir direito, fui ao psiquiatra e lá descobri que o remédio que me fora receitado era filho do seu... Assim que dei a primeira risada, sob o efeito dos pequenos comprimidos, pensei nisso, tal pai, tal filha, e gostei.

Quase tudo o que aprendi, eu devo a você, e sei que haveria muito mais o que falar, mas minhas lágrimas me impedem de pensar em qualquer outra coisa... Mas o que importa mesmo é que você é o meu pai, e com gosto e orgulho, eu vou te amar pra sempre. "

Comentários

  1. Chorei muito quando li.
    Motivar um texto deste, de uma filha de 18 anos, dá pra não explodir de orgulho?
    Meu amor, espero só fazer por merecer todo este seu carinho até o fim dos meus dias.
    Te amo.

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  2. Posso chorar junto? Beijos
    para os 2...

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  3. Bom demais Aninha. Segura uma invejinha pela filhona aí, Patah.
    Não poderia haver melhor gancho para retomarmos o querido Aperitivo Digital.

    Beijos

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  4. Só li hoje mas fiquei com lagrimas nos olhos diante de tamanha declaração de amor.O melhor da vida é o afeto que damos e recebemos.
    Jaime também adorou. Parabéns para o pai merecedor e a filha reconhecida.
    bjs
    Marilza

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