Nas eleições presidenciais de 2010, a grande imprensa brasileira levou uma coça memorável. Quando digo “grande imprensa”, o limite é mais que óbvio: eixo Rio-Sampa. O Globo, Estadão, Folha de S.Paulo, revistas Veja e Época. O resto é vagão.
Pois, consagradas com o sugestivo e bilingue apelido PIG - Partido da Imprensa Golpista - por uma enorme, barulhenta e desorganizada legião de blogueiros, as redações do quarto poder perderam o rebolado, entraram em pane e pânico. Derrota configurada, no momento zenital mais patético, sem conseguir manipular informações como de costume, a toda-poderosa rede Globo tentou virar o jogo transformando um rolo usado de fita durex em poderosa arma de violento atentado contra a careca do José Serra, que nem vermelha ficou.
Fatos são fatos e todos aqueles que conhecem a História sabem que o apelido tem fundamento.
Os tres diários - mais o Jornal do Brasil e Correio da Manhã - foram os corneteiros de batalha que tocaram a senha para deflagração do golpe militar de 1964. Se pudessem fariam de novo porque, várias vezes provado, são sujos e idiotas o bastante para repetir erros crassos. Continuam acreditando que podem pautar governos, derrubar e construir presidentes. O problema é que, desgraçadamente, o governo Lula foi um sucesso de marketing e resultados. A Dilma vai pelo mesmo caminho e até mais popular. Mas desistir de fustigar, porém, está mais que fora dos planos.
A revista Época desta semana, meio sem querer, mandou uma matéria que pelo menos revela a cor das suas roupas de baixo. Sem assumir que o que existe mesmo é a própria linha editorial, ela repassa para uma pretensa nova geração de colunistas, de maneira escorregadia, a responsabilidade de criticar todos os governos que não seguem os dogmas do neoliberalismo econômico. Diz que a capacidade de gerar polêmicas, agora, está nas mãos de uma diferente safra contemporânea de escritores e jornalistas ad-hoc. A novidade é que eles assumem aberta e agressivamente suas condições de direitistas raivosos e reacionários.
Basicamente, a matéria se dedica a seis ou sete intelectuais de whiskeria (tem um português entre eles) que escrevem artigos quase semanais em um ou mais dos cinco grandes. São figurinhas texto enfadonho e acadêmico. Surfam naquela onda foxista e fracassada norte-americana de fazer charminho dizendo que são politicamente incorretos. Dedicam longas garatujas à pretensão de encher o saco de mulheres, de negros, de homossexuais, de ambientalistas etc. Acham que tudo o que é privado é bom e tudo o que é estatal é ruim. Não querem que existam bolsa família, financiamento educacional, amparo social ou qualquer outra coisa que signifique intervenção do Estado no combate à miséria. Não gostam que existam previdência social e funcionários públicos bem pagos. Tudo se resolve no mercado, base da lei do mais forte. Vencedores e perdedores o são porque merecem. Nessa lógica suína, o erro não é roubar mas, sim, ser pego. O Estado ajudar instituições financeiras que dão trambique, isso pode e deve. Na verdade, o verniz lorpa de suas teorias não gera qualquer polêmica mais importante. Nenhum intelectual que se preza se dispõe a bater boca com arautos de paspalhice. Se tanto, jornais e revistas recebem e-mails de cidadãos indignados que desavisadamente perderam algum tempo em ler meia dúzia de suas linhas. Confesso já tentei digerir um tasco do pensamento desses caras. Na minha idade, porém, o instinto de não perder tempo me induz ao desligamento de tudo aquilo que é inútil.
A Época, porém, dedica seu caro espaço à confraria num estado de êxtase que certamente é representativo da elite brasileira. Estão todos encantados com a capacidade de erosão da paciência alheia de seus novos bad boys.
A comparação com o passado, entretanto, é prova definitiva de sandice. Os polemistas à esquerda de outros tempos eram Graciliano Ramos, Monteiro Lobato, Antonio Callado, Alceu Amoroso Lima, Millor Fernandes, Stanislaw Ponte Preta, Fausto Wolff. Mesmo à direita tínhamos Nelson Rodrigues, Carlos Lacerda, Gustavo Corção. Agora eles vêm com uns tais de Denis Rosenfield, Luiz Pondé, Rodrigo Constantino, Demetrio Magnoli. Todos despontando para o anonimato. Curiosamente, Época não colocou os exemplos do grupo Globo. Bem mereciam estar na lista os mais conhecidos como Merval Pereira, Guilherme Fiuza e Diogo Mainardi. Merval é o santo padroeiro do clube. Eleito imortal, participou de um joguinho de influências que reduziu a credibilidade da ABL a pó de esterco. Diogo Mainardi aproveitou a cidadania italiana – e o dinheiro da família - para fugir para Veneza e assim escapar dos muitos processos por calúnia e difamação. Continua falando merda aos baldes no programa Conexão Manhattan. Quanto a esse Guilherme Fiuza , além de não sei o que mais, é também conhecido nas noitadas como namorado da perua histriônica Narcisa Tamborideguy (acho que é assim que escreve). Dize-me quem estás comendo e vos direi que és. Mas, só por curiosidade, alguem aí tem guardado um livro qualquer dos skinheads da imprensa? Nem eu. Aliás, minto. Até que do Demetrio tenho umas brochurinhas didáticas. Ele foi trotskyista exaltado, um dos melhores oradores da Libelu - facção do movimento estudantil que pregava a tomada violenta do poder pela vanguarda do proletariado. Conheci pessoalmente. Uma figuraça. Magrinho, chinelos de dedo, cabelos sebentos sem corte há seis meses. Dividimos uma bisnaga com mortadela num encontro da UNE. Mas ele nem chega a ser o melhor dos exemplos de virada de casaca. Esse campeonato ninguém tira do nosso Paulo Francis, cabeça também forjada nos volumes incendiários de Trotsky.
Depois que se rendeu às delícias dos bons salários da Venus Platinada e do Estadão, verdade seja dita, Paulo Francis perdeu conteúdo mas pelo menos ficou muito engraçado com suas tiradas tatcherianas. Coisa que não acontece com essa geração queridinha aí de neopolemistas. O tal do Pondé disse que o Viagra fez mais pela humanidade do que 200 anos de marxismo. Não exija explicação sobre a máxima. A ideia é você rir. Faça uma forcinha.
Comentários
Postar um comentário