LONGE DO ALVO MESMO COM O VENTILADOR

Na próxima quinta, às onze, se acordado, lá estarei de novo com a minha tevê ligada no canal quatro. Mas não perco o próximo "Na Moral" por nada. E muito vou ficar decepcionado se o programa desta vez estiver bom. Só o da estréia já me deu, como há muito não tinha, fartíssimo material para sentar o cacete nas rodas de amigos. A bem da verdade, sem surpresas. Pedro Bial é uma cara sem qualquer credibilidade entre os frequentadores técnicos e anônimos de noites de autógrafos - como eu. O tiro fatal não veio dos BBBs mas, sim, daquela biografia mais que babada do Roberto Marinho. Questão trivial e ginasiana, sou um devorador do gênero. Biografia que não irrita o biografado - ou a família do biografado - não presta. Empregado tratado a pão-de-ló não publica livro sobre vida de patrão. Quem faz isso é o filho deserdado, o sócio que levou uma volta, a mulher traída. O espírito de fofoca é essencial quando se fala da trajetória de um figurão. O que queremos, no fundo, é saber quão filho da puta o cara foi. E a oportunidade, no caso, foi jogada no lixo. Se tem uma coisa de que ninguém duvida neste país é que o morubixaba do império Globo está em qualquer lista dos dez maiores efedapês da nossa história. Mas o Bial veio com uma de quase nos convencer que o RM era agente soviético, tamanha a quantidade de comunistas que ele salvou da Ditadura. Mas voltando à vaca seca, o programa-piloto, para descer a mamona na onda do politicamente correto, começou com uma pergunta de pretenso impacto. É bicha, viado ou homossexual? Atenção, corretores caetanistas: viado é assim mesmo que se escreve, com "i". Veado é aquele bicho bonitinho e saltitante. O nome "viado" se consagrou no coloquial e tem mais ligação com transviado, ou com desviado, do que com o animalzinho amigo da Branca de Neve. De mais a mais, estou com o Millor: pra mim, quem chama viado de "veado" é viado. Ortografia à parte, a pergunta bolada pelo Pedro foi ignorante. Bicha e viado até podem conter conotações parecidas. Mas o homossexualismo é uma condição de escolha pessoal que nada tem a ver com estereótipos de comportamentos sociais. Uma pessoa minimamente conscientizada não deve se incomodar com a sexualidade de a ou b. Porém, ninguém é obrigado a suportar bichices ou viadagens. E viadagem pode perfeitamente vir de homem metido a machão e até de mulher masculinizada. Já vi muito marombado dar chilique porque pisou distraído em poça d’água. Segundo a chamada da Globo, o programa tem o objetivo de fazer o brasileiro pensar. Para dar uma forcinha a um lado e outro, o primeirão colocou dois supostos luminares rivais que, em tese, se engalfinhariam intelectualmente. Contra o políticamente correto, o malvado favorito da nova direita jornalística. Um certo Luiz Felipe Pondé, autor do livro "Guia Politicamente Incorreto da História da Filosofia" (acho que é esse o nome). Tem bastante na Saraiva e na Travessa mas já foram retirados da porta, embora ainda estejam em promoção. Tentei ler e parei bem antes do meio, farto da tamanha quantidade de asneiras e elogios ao preconceito. Esse Pondé aí se diz filósofo. Tenho pelo menos tres amigos que fazem doutorado em filosofia. Nenhum ouviu falar no famoso ou conhece dele qualquer contribuição. Honra seja dada, o Pondé ficou calado na maior parte do tempo e nesse aspecto sua participação foi muita boa. O problema realmente grave é que a favor do politicamente correto o Bial convidou um completo e absoluto imbecil de quem não mais lembro sequer o primeiro nome. Claro que isso não deve ter sido à toa. Se a questão, porém, é pensar, dou aqui o que penso. O espírito do politicamente correto é saudável. Durante anos e anos, quando criança, cantei "atirei o pau no gato" sem prestar a menor atenção na letra. Também pulei muito nos bailes de carnaval me deliciando com o "mas como a cor não pega mulata, mulata eu quero seu amor". Não se deve, é óbvio, censurar e proibir. Mas qualquer criança sabe muito bem, hoje em dia, que atirar o pau no gato para ele morrer é uma covardia criminosa. E também sabe que "pegar" a cor da mulata não diminui em nada o valor de alguém. Sinto muito orgulho quando vejo meu filho não achando a menor graça das piadas racistas que às vezes conto por mero impulso atávico. Politicamente correto, na sua forma essencial, é apenas e tão somente isso: você pode continuar cantando e fazendo o que quiser; mas tem de saber exatamente se está ou não cantando merda e fazendo idem. Convenhamos, o começo do "Na Moral" foi uma atolada na própria titica que o Bial pretendia espalhar.

Comentários

  1. Você tem estômago, em assistir uma merda dessa. Bial (argh!) repetiu, com o patrãozinho querido lá dele, o mesmo papel ridículo que o Fernando Sabino (argh!) tinha feito com a santa padroeira dos punguistas, a tal da Zélia (argh!). Ao contrário do Sabino, no entanto, de quem eu tinha um livro na minha estante, e que joguei no lixo, do Bial (argh!) eu nada tive, nunca. Afinal, a maior contribuição do pulha em questão para a cultura nacional foi elevar os bombombombados do BBB à categoria de "heróis nacionais".

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