Pensando no Mensalão


Tenho pensado muito nesse julgamento.  Não juridicamente, não tenho conhecimento técnico para isso, mas politicamente.  E não saem da minha cabeça alguns fatos: em primeiro lugar, foi o Lula que nomeou o procurador-geral da república e a maioria dos ministros atuais do STF. Por si só, não quer dizer muito (se você acredita que quem é nomeado, no Brasil, não deva nada ao nomeante), mas com certeza explica porque o bode expiatório escolhido para responder pelos crimes, lá no fim da cadeia de responsabilidades, ter sido o Zé Dirceu e não ele, Lula - afinal, o principal beneficiário da "dita compra de apoio político" - ou o então presidente do partido, o decorativo José Genoíno;

Em segundo lugar, o fato de Zé Dirceu ser uma estrela de brilho próprio no PT, a única liderança com projeto pessoal de poder no interior do governo Lula e o único capaz de disputar internamente com o ex-presidente e causar a este algum dano em uma eventual desavença.  Sem contar que o Dirceu tem um perfil de "esquerda" que o Lula tem interesse em ver distante dele e muito menos explícito no PT. O Genoíno pagar o pato sozinho não seria o suficiente para garantir a sujeição da liderança histórica do PT paulista (no fundo, no fundo, o único PT real) ao lulismo.

Também a abrupta e inesperada acomodação com a Marta Suplicy leva água ao mesmo moinho.

Não deixo de pensar que esse julgamento recebeu, no mínimo, sinal verde do Lula (e também da Dilma).

Mais e mais, o partido vai ficando tão dependente do Lula quanto era o PDT do Brizola e, antes dele, o PCB do Prestes.  O tal do "lulopetismo" está se livrando do que podia ainda ter sobrado do PT original.  Lula e Dirceu estiveram sempre juntos na luta interna para expulsar os deputados que votaram a favor da Constituição de 88, depois a ultra esquerda, depois os que quiseram colaborar com o Itamar, depois com o FHC, depois o pessoal que fundou o PSOL, enfim, para neutralizar todo e qualquer contraponto que ameaçasse a figura imponente do Luiz Inácio e sua sombra permanente. Até que só restou o Dirceu.  A bola da vez.

Nào é só a Revolução que devora seus filhos.

Comentários