A Fé é quântica e está na ponta dos seus dedos !


Estava eu na feira comendo pastéis de camarão, a caminho dos damascos (meu nome não é Paulo à toa), quando fui fulminado pela luz de uma ideia incrível, que passo a expor:

Quando criança, a ocorrência de milagres, me diziam, era algo muito raro, que exigia profundas e demoradas investigações para que a natureza sobrenatural deles pudesse ser constatada. Hoje em dia, a coisa é diferente.  É só ligar a TV para ver como os milagres agora acontecem às dúzias em cada esquina das cidades do País, em igrejas as mais variadas, centros espíritas, terreiros de candomblé e por aí vai.

Cegos às pencas voltam a enxergar, surdos recuperam a audição, paralíticos saem sapateando das cadeiras de roda, perturbados de todo o tipo voltam à calma, operações delicadíssimas são feitas apenas com o uso das mãos e os tumores, ah, os tumores!, estes são fichinha.

Reparei, no entanto, que, mesmo diante deste espetáculo da banalização eletrônica dos milagres, eu nunca tive a oportunidade de ver um fiel que tenha perdido um braço ou uma perna sair curado de nenhum desses lugares onde se operam tantos prodígios.

Certo, nunca ter visto uma coisa não significa necessariamente que tal coisa não exista.  Afinal, ninguém nunca viu enterro de anão e todos sabemos que anões existem.  Portanto, a menos que se postule a imortalidade deles, deve existir enterros de anões, ainda que raros, como costumavam ser os milagres antigamente.

Mas, por um momento admitamos, por mercê dos fatos observados, que pernetas e manetas não sejam curáveis nos locais acima referidos. O que poderia explicar por que um fiel, por mais que deseje e por mais que peça ao divino, não alcance a graça desejada? A resposta é uma só: ele não tem a fé necessária para que o milagre ocorra! Por mais que ele, o suplicante, acredite, a fé dele, de todos os que estão nas mesmas condições, é insuficiente!

Por que isto ocorre? Aqui chegamos na tal ideia fulminante: se todo perneta ou maneta perde a fé quanto perde um membro, então a fé deles (e a de todos nós, já que qualquer um pode sofrer um acidente a qualquer momento) deve residir, necessariamente, no, ou em alguma parte do, membro que se perdeu!  No instante mesmo em que se perde tal parte, em um acidente, ou durante a gravidez, ou o que seja, a fé que resta passa a ser insuficiente para alcançar a cura desejada!

Olhando mais de perto, observamos que não se trata do membro em sua completude. Podemos concluir, facilmente, que a perda necessária para tornar a fé insuficiente para a regeneração curativa é, no mínimo, a ausência da falange mais externa de cada um dos dedos! Isto vale tanto para os dedos dos pés quanto para os das mãos.  Perdida a primeira falange de qualquer um deles, não resta no indivíduo o montante de fé minimamente necessário para que o milagre se dê!

Deste modo, demonstra-se a existência de uma quantidade discreta de fé (o que corresponde precisamente à definição de "quantum"!) - um quantum de fé - residente na primeira falange de cada dedinho do corpo humano! Logo, a fé em si é um fenômeno quântico!

As implicações são assombrosas !

Por exemplo, como nada impede que um maneta ou perneta seja curado de um tumor, ou de uma paralisia, ou cegueira, segue-se que o somatório dos quanta de fé necessários para estas curas, que chamarei de menores em relação à cura maior, por regeneração, sejam distintos do exigido por esta última. Isto torna necessário estabelecer uma hierarquização quântica das curas passíveis de ocorrer por ação divina.  Da mesma forma, torna-se indispensável examinar a possibilidade de pelo menos um quantum de fé migrar para outros lugares do corpo, uma vez que não se pode descartar a ocorrência de outras curas em um indivíduo completamente desprovido de dedos! Também a cura pela impostação das mãos, ou mais propriamente, dos dedos, ganha em credibilidade à luz desta nova e formidável teoria. E, como a hipótese da fé quântica não estabelece distinção entre dedos das mãos e dos pés, pode ser possível comprovar que pisar nos clientes pode curá-los também!

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