Brecht, O filósofo da PUC e o CCBB


Nos primeiros meses de CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), no Rio de Janeiro, houve o lançamento de uma biografia do dramaturgo alemão Bertold Brecht, de autoria de um renomado professor de filosofia da PUC.  O livro foi apresentado em uma palestra proferida pelo fisósofo, cujo nome declinarei, num auditório do Centro. Lugares todos ocupados, tudo ia bem até que, em certa altura, o palestrante lançou a tese central de seu livro sobre o teatrólogo germânico:  para ele, Brecht, como resultado de sua experiência com os horrores da II Guerra, teria se tornado um pacifista, para quem o supremo valor passara a ser não mais a Revolução, mas o combate intransigente contra a guerra, qualquer guerra.
Eu tinha acabado de ler outra biografia de Brecht, aquela da capa amarela, da Paz e Terra, acho que escrita pelo Fernando Peixoto.  E Brecht é um dos poucos autores cuja obra editada em português eu li inteira. Assim, levantei o braço e pedi a palavra, que me foi gentilmente concedida.  Contestei o filósofo argumentando com o fato de que o PC alemão, cuja linha Brecht seguiu e defendeu por toda a vida, nunca foi nem jamais se tornou pacifista, nem admitia o pacifismo em suas fileiras.  Expliquei todas as reviravoltas políticas de Stálin, antes, durante e depois da Guerra, mostrei como Brecht refletira cada uma destas viradas em sua obra, seja em seu teatro, seja em sua poesia.  E terminei minha intervenção chamando a atenção para a peça "Os fuzis da Sra. Carrar", por mim apresentada como sendo uma obra didática que visava a condenação precisamente do... pacifismo!
O contestado mostrou boa assimilação dos golpes, tergiversou sobre a linha do Partido e evitou cuidadosamente se referir à peça que eu citara. Seguiu com a palestra, reafirmou a tese do pacifismo, mas não mais insistiu nela até o encerramento.
Depois, na saída, esbarrou em mim, me cumprimentou com elegância, elogiou minha argumentação e foi embora, apressado, sem esperar resposta. Nunca mais nos cruzamos.

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