De jabuticabas e impeachments

Derrotados na Constituinte, derrotados no plebiscito, derrotados nas urnas, os para-lamentaristas brasileiros estão a inventar uma forma de governo tão nacional quanto as jabuticabas: o parlamentarismo presidencialista, que não é mais do que um presidente permanentemente tutelado, cuja função é apenas levar a culpa de qualquer coisa que aconteça de errado no país. Sem dispor de uma ferramenta tipicamente parlamentar para derrubar o governo, que seria o voto de desconfiança, eles recorrem ao impeachment, usando para alcançá-lo qualquer pretexto, já que a definição (política) de "crime" depende apenas da maioria eventual dos votos no Congresso. Pode até funcionar, como se está vendo, dependendo muito da incompetência do presidente em exercício. Mas a que preço ? A sangria desatada prossegue quase indefinidamente, com todas as atenções voltadas para o espetáculo de hipocrisia encenado diariamente no Congresso, enquanto o atual interino tutelado, em sua busca desesperada por quaisquer meios de manter-se no cargo, usa da caneta para promulgar qualquer decreto que lhe seja cobrado, não importa qual. Pessoalmente, acho que o custo do impeachment é alto demais para o país. Sem falar que a cada novo presidente eleito, por força do precedente que se está a criar por agora, terá que enfrentar um processo do tipo durante todo o seu mandato. Aliás, isto já ocorre desde que o instrumento do impeachment foi agregado à constituição brasileira. Esta jabuticaba-frankenstein não pode prosperar, ela tem potencial para desagregar o Brasil.

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