Uma experiência de ensino

Não sou pedagogo. Nem professor (aliás, acho que há pedagogos demais para professores de menos). Só dei aulas por um curto período, meros seis meses, numa faculdade particular do interior do Estado do Rio, para uma turma de pós-graduandos em Direito (!). Fui um professor tão ruim, na minha própria avaliação, que achei que a melhor contribuição que podia dar à educação brasileira era me manter bem longe das salas de aula. Mas, mesmo nesta limitadíssima experiência, constatei o fato de que pelo menos metade da turma ou não sabia ler, ou era muito insuficiente na leitura e, consequentemente, no entendimento dos textos discutidos em sala.
Como foi possível que tantos analfabetos funcionais tivessem chegado à uma pós-graduação em Direito ?
Passaram todos pelo ensino fundamental, pelo ensino médio e pelo ensino superior. Neste último, necessariamente, por uma escola particular (não imagino como poderiam concluir um curso destes numa faculdade pública). E o fizeram sem saber ler ou sem saber fazê-lo direito. Mas pagando em dia as mensalidades da escola.
Ora, ler é algo que supostamente se aprende no ensino fundamental. Daí minha convicção de que o principal problema a ser enfrentado por qualquer um que deseje uma educação pública melhor no Brasil é, prioritariamente (não unicamente, que fique claro), reformar o ensino fundamental, para assegurar que ninguém saia dele sem a necessária proficiência na leitura.
Ou isso, ou todo o investimento público que se faça em educação será desperdiçado em grande parte, servindo apenas para gerar estatísticas vazias de sentido para serem exibidas em campanhas eleitorais.

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