Frederico Falcão, presente!


Em 1978 eu estudava Física na UERJ e militava na Convergência Socialista, há pouco menos de 1 ano. Foi quando houve uma série de prisões políticas nas escolas de Medicina e Ciências Sociais envolvendo o pessoal do MEP, os últimos ainda a passar pela inumana experiência da tortura. Um dos presos foi Frederico Falcão, que eu ainda não conhecia na época. O Fred Falcão que acaba de deixar nosso convívio, e que hoje pranteamos.
Toda a militância da CS tinha sido deslocada da Universidade para as fábricas (a chamada proletarização) ou para atuar na campanha eleitoral daquele ano, a primeira depois da vitória inesperada do MDB nas eleições de 74. Restavam apenas 5 militantes de uma vanguarda que até então tinha sido uma das maiores da Universidade (quase trinta militantes, vários de grande influência e experiência nas respectivas bases), justamente no momento em que se marcaram as eleições para o primeiro DCE da UERJ para o ano seguinte, em aberto desafio à ditadura militar ainda vigente. E, sabe-se lá por qual razão, a tarefa de liderá-los me foi dada.
A saída tinha sido tão abrupta e açodada que nem os contatos que os militantes mais atuantes tinham nas escolas me foram passados. Minha escola era pequena e restrita ao 3º andar do prédio principal, e eu quase não tinha contato com outras forças políticas do movimento, salvo um ou outro fórum de discussão interno, onde quase nunca tinha sido eu a falar pela tendência ou pelo CA da Física. Resumindo, eu não tinha nem a experiência, nem os contatos e nem o reconhecimento das demais tendências presentes na Universidade. Era o cara errado, na função errada e na hora errada.
No início do ano eleitoral marcado, recebo a tarefa de negociar com a tendência do jornal Companheiro na UERJ, a mesma do Fred, já então fora da prisão, uma aliança para a chapa do DCE. Cônscio da falta de argumentos para justificar a aliança a ser proposta, eu esperava uma negativa por parte da tendência a ser procurada, até porque eles tinham avançado bastante nas bases que deixamos desassistidas e eram então a maior vanguarda do movimento na Universidade. E nós tínhamos desaparecido por completo. Mas a realidade foi ainda pior do que eu imaginara.
Fui até o Hall do 9º andar e me apresentei ao Fred como representante da CS para discutir a formação de chapa para o DCE. Escaldado pela experiência recente, e sem me reconhecer como dirigente do CA de Física, Fred me olhou de alto a baixo e disse: - Não te conheço! Como posso saber se você representa a Convergência? Congelei, e só pude perguntar se ele conhecia um outro companheiro que permanecia na Química e tinha muito mais tempo de militância do que eu. - Você conhece fulano? - Conheço, disse ele. - Vou então mandar que ele te procure, disse eu, antes de sair com o rabo entre as pernas...
Algum tempo depois, quando conheci de fato o Fred, por intermédio da esposa, Fernanda Carísio, de quem me aproximei em 1980, quando passei a militar no movimento sindical bancário, e que também tinha sido presa junto com o Fred em 78 (foi quando os dois se conheceram), eu contei a história para ele, e rimos muito juntos. Desde então, o Fred foi extremamente carinhoso comigo, em todas as ocasiões em que estivemos juntos, e foram muitas.
Carinho que eu retribuí sempre e que hoje quero estender à Fernanda e a todos os familiares dele, nesta hora tão difícil para todos.
Frederico Falcão, presente!

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